quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

ESTÓRIA DE SABEDORIA (Acaixinha)


Há um tempo atrás, um homem castigou sua filhinha de 3 anos por desperdiçar um rolo de papel de presente dourado. O dinheiro andava escasso naquelas dias, razão pela qual o homem ficou furioso ao ver a menina envolvendo uma caixinha com aquele papel dourado e coloca-lo debaixo da árvore de Natal.

Apesar de tudo, na manhã seguinte, a menininha levou o presente ao seu pai e disse:

“Isso é para você, papai!”.

Ele sentiu-se envergonhado da sua furiosa reação, mas voltou a “explodir” quando viu que a caixa estava vazia. Gritou, dizendo:

“Você não sabe que quando se dá um presente a alguém, a gente coloca alguma coisa dentro da caixa?”

A pequena menina olhou para cima, com lágrimas nos olhos, e disse:

“Oh! Paizinho, não está vazia. Eu sobrei beijos dentro da caixinha. Todos para você, Papai.”

O pai quase morreu de vergonha, abraçou a menina e suplicou que ela o perdoasse.

Dizem que o homem guardou a caixa dourada ao lado de sua cama por anos e sempre se sentia triste, chateado, deprimido, ele tomava da caixa um beijo imaginário e recordava o amor que sua filha havia posto ali...

De uma forma simples, mas sensível, cada um de nós humanos temos recebido uma caixinha dourada, cheia de amor incondicional e beijos de nossos pais, filhos, irmãos e amigos... . Ninguém poderá ter uma propriedade ou posse mais bonita e importante que esta.



segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

HERÓIS DO CASTELLO (Paraibanos que lutaram na II Guerra Mundial relembram a vitória em Monte Castello.)


O dia 21 de fevereiro marca um capítulo especial na história brasileira. Nesta data, há 55 anos, as tropas da FEB (Força Expedicionária Brasileira) dominaram as posições alemães em Monte Castello, na Itália, durante a II Guerra Mundial, depois de três tentativas fracassadas. A Paraíba contribuiu para a vitória com vários “pracinhas” (nome como era conhecido popularmente os soldados da FEB) participando das batalhas. Os fatos, amizades, as perdas e o sofrimento da campanha estão vivos na lembrança destes senhores de cabelos brancos.

“Monte Castello foi uma questão de honra para os brasileiros”, ressalta o ex-combatente José de Oliveira Neves, nascido em Itabaiana e que reside no bairro de Jaguaribe, em João Pessoa. No posto de sargento, Neves comandou uma sessão de metralhadora composta por 14 homens em vários batalhas e lembra que após os fracassos iniciais em Monte Castello a troca brasileira recebeu críticas do comando norte-americano, particularmente após a terceira ação, desencadeada a 12 de dezembro, quando as tropas do 1º Regimento de Infantaria, batizado de Sampaio, e do 11º Regimento de Infantaria recuaram das posições ocupadas no monte.

Já o cabo atirador Benjamim Benedito de Sousa Fonseca, que saiu de sua terra natal, Guarabira, apenas com 17 anos de idade e ingressou como voluntário no 15º Batalhão de Infantaria em João Pessoa, explica que o Monte Castello era semelhante ao restante das elevações da região dos Apeninos, na Itália, onde ocorreram várias batalhas da FEB.”Ele não é muito alto, mas parece com um cuscuz, ou seja, ele é arredondado nas laterais e não oferece muita proteção para quem está atacando”, revela. O cabo Souza também integrou o 2º Batalhão do Regimento de um morteiro.

Outro ex-combatente do Monte Castello é Otávio da Silva Guerra que chegou à Itália como cabo e depois foi promovido para sargento, sendo atualmente presidente da regional da Associação dos Veteranos da FEB que reúne na Paraíba 58 associados. Natural de Alagoa Grande, ele foi convocado para servir no 15º BI, sendo transferido depois para o Rio de Janeiro onde integrou o 3º Batalhão do Regimento “Sampaio”. “Na Guerra não há tempo de ter medo ou coragem, você tem que se desprender de tudo”, salienta.Três tentativas frustradas - O nome de Monte Castello passava a ganhar importância a cada ataque dos brasileiros que era frustrado pelos alemães. A tentativa inicial ocorreu nos dias 24 e 25 de novembro de 1944. A tropa era encabeçada por um grupo tático norte-americano, a Task Force 45, sendo apoiada por um batalhão da FAB. Apesar dos esforços, os atacantes foram rechaçados pois enfrentavam fogo de três posições (gente e flancos esquerdo e direito), porém, conseguiram a posse do Monte Belvedere, situado na lateral esquerda da subida do Castello.

Nova empreitada aconteceu no dia 29 de novembro de 1944. O ataque foi integrado por um batalhão de cada um dos três regimentos da FEB. Contudo, a sorte estava contrária aos brasileiros porque as unidades da 232ª Divisão Alemã que defendiam a posição haviam retomado o Belvedere às forças americanas no dia anterior e assegurado o campo de tiro também no flanco esquerdo dos soldados brasileiros.

O pior, entretanto, ainda estava por vir. O “pracinha” Souza, que havia entrado em ação pela primeira vez em 20 de novembro, relembra o ataque do dia 12 de dezembro. “A gente recebia fogo de todos os lados na subida para o Castello. O frio era terível e o ataque não pôde receber apoio da FAB porque o céu estava encoberto”, comenta, acrescentando que “os tanques americanos também não puderam apoiar. Eu vi muitos companheiros tombarem no ataque”.

As encostas da elevação estavam escorregadias por causa da lama, dificultando ainda mais a ação das forças do Brasil. “O ataque foi dado como fracassado por volta da meia-noite e meia, mas desde às 10 horas já se sabia que não teria sucesso”, ressalta Souza. Já Neve enfatiza que a sorte durante o recuo foi a participação das equipes de morteiro que deram apoio constante e ininterrupto às unidades em retirada.

O dia 12 de dezembro ficou conhecido como o mais triste da campanha da FEB. No ataque malogrado, sob 20 graus negativos do inverno italiano, aconteceram 145 baixas entre mortes e feridos. Somente no 1º Regimento “Sampaio” foram 112 vítimas, enquanto outras 33 pertenciam ao 1º Batalhão do 11º não do 11º Regimento de Infantaria.

Vitória no Castello – Os reveses em Monte Castello, sobretudo o ocorrido em 12 de dezembro de 1944, provocaram críticas e suspeitas relativas ao espírito combativo do soldado brasileiro por parte do comando aliado. Em contrapartida, tornou a conquista da elevação uma questão de honra por parte das forças da FEB. Um novo ataque foi planejado e os brasileiros passaram por treinamentos para o combate na neve durante o mês de janeiro.

O plano para o dia 21 previa a tomada de diversas elevações situadas na região norte dos Apeninos, inclusive Monte Castello. Um trunfo era a presença da 10ª Divisão de Montanha dos Estados Unidos, tropa especializada neste tipo de confronto que assegurou a posse de Monte Belvedere e eliminou o risco de fogo pelo flanco esquerdo aos atacantes do Castello. Já a posse da lateral direita foi garantida pelo ataque do 2º Batalhão do 11º Regimento de Infantaria da FEB. Os avanços, planejados pelo então tenente-coronel Humberto de Alencar Castelo Branco (presidente durante o período da ditadura militar), começaram às 5h30, combinados para ocorrer com apoio de artilharia.

Pouco mais de 12 horas depois, por volta das 17h50, o tenente coronel Emílio Rodrigues Franklin à frente de um pelotão atingiu o cume do monte e repassou a informação ao comando a informação ao comando das tropas. Contudo, ainda não era momento de festejos. Segundo o ex-cabo Souza a ordem era de manter a máxima atenção e não dormir para evitar contra-ataques: “A artilharia continuou durante toda à noite, o fogo era constante”. Os números demonstram a ferocidade da luta: 103 baixas, sendo 12 mortos. A conquista, da região onde estava localizado o Monte Castello empurrou os alemães para o Vale do Pó, setor mais favorável ao ataque já que não era integrado pela geografia composta de inúmeras elevações dos Apeninos.

Notícias do front - Os paraibanos presentes na Itália totalizavam mais de 300 militares. O Estado teve seis mortes em combate. Um deles foi Edésio Afonso de Souza que tombou durante uma patrulha na chamada “terra de ninguém”, setor da frente que não é dominado por nenhum dos lados em conflitos. “Ele entrou numa casa durante a patrulha atrás de um soldado que havia entrado e estava demorando. Só que quando entrou um inimigo o esfaqueou”, conta o ex-sargento Guerra. O ex-combatente Guerra lembra que a capacidade de improviso dos “pracinhas” chamada atenção. Para evitar o chamado “pé-de-trinchedira”, (o congelamento dos pés), os soldados do Brasil criaram uma técnica que consistia em agasalhar os pés com pedaços de panos para aquecê-los. “Não se via soldados brasileiros vítimas do pé-de-trincheira”, frisa Souza. Outro exemplo de criatividade era a colocação, amarrado em paus, de um saco de estopa extremante molhado diante da boca da metralhadora para quando esta disparasse o fogo reduzido e dificultasse a identificação do local onde esta fora instalada por parte dos inimigos. “O saco ficava logo cheio de furos e aí a gente tinha que trocar rápido por outro”, conta Neves.

No prosseguimento da luta, o sargento Guerra foi ferido pela explosão de um tiro de morteiro no dia 5 de abril quando o Monte Belvedere era alvo de bombardeiro. “Eu estava observando o bombardeiro que os alemães estavam fazendo contra as posições do 1º Batalhão. Achei que eles podiam desviar a direção dos disparos, mas aí já era tarde”, comenta. Os estilhaços da explosão nas pernas, tendo ferido ao todo seis “pracinhas” e morto outros dois.

Era o término das ações do combatente Guerra no teatro de operações. Ele sofreu quatro cirurgias para a retirada de estilhaços e até ser evacuado para o Brasil permaneceu no hospital americano de campanha. Em seguida ficou internado no Hospital Central do Exército, no Rio de Janeiro, até receber alta. Após o conflito ele prosseguiu a carreira no Exército. Hoje, ele é casado, tem três filhos e seis netos.

Já Neves também retornou para casa antes do fim da luta. Ele contraiu uma inflamação no olho por conta de claridade da neve. Após os primeiros exames ele conseguiu fazer com que os médicos o deixassem ficar na Itália. Porém, o problema na vista aumentou e, apesar da resistência, ele teve que abandonar o combate. De volta ao Brasil, ele acabou solicitando baixa do Exército e retornou a Paraíba. Atualmente é casado, tem seis filhos e 14 netos.

O cabo Souza passou ileso pela campanha italiana e retornou ao Brasil junto com as demais unidades da FEB. Ele relembra a acolhida no Rio de Janeiro e, em particular, a festa feita pela população de Guarabira para recebê-lo. Em João Pessoa, ele vive com a esposa, possui quatro filhos e oito netos.

Outros acontecimentos – A guerra na Itália prosseguiu até o dia 2 de maio quando os alemães se renderam. No restante da Europa o conflito Terminou a 8 de maio com a ocupação de Berlim pelos soviéticos e a rendição incondicional. As unidades brasileiras seguiram lutando na campanha do Vale do Rio Pó. O fim do conflito ocorreu na localidade de Susa, no norte da Itália, perto da fronteira francesa, quando entraram em contato com a 27ª Divisão Francesa.

A entrada do Brasil na Guerra ocorreu em 1942 após sofrer uma série de afundamentos de navios por parte dos submarinos alemães. O envio de tropas aconteceu em agosto de 1944, já na fase final do conflito. As forças da FEB chegaram à Itália em navios transporte americanos sem nenhum armamento. “Contam que a população local vaiou os brasileiros por que pensava que eram prisioneiros alemães. Até os americanos destacados para recebê-los achou estranho os uniformes”, diz Guerra.

As tropas brasileiras aprisionaram durante os 239 dias que permaneceu em combate dos generais, 892 oficiais, 19.689 praças, 80 canhões, 5 mil viaturas diversas e 4 mil cavalos. Além de Monte Castelo, batalhas como Castelnuovo, Montese e Fornovo também merecem destaque na literatura militar do país. Em montese, por exemplo, foi o lugar onde as forças da FEB enfrentaram o maior bombardeiro alemão da campanha, Já em Fornovo a 148º Divisão de Infantaria da Alemanha, com 14,779 soldados, redeu-se aos brasileiros.


OBSEVAÇÃO: O texto foi extraído da Revista: A Semana de 18 a 25 de fevereiro de 2000. Ano 1. Nº41.


O texto foi republicado pelo BLOG: CONHECIMENTO ONLINE, em homenagem a todos os ex-combatentes brasileiros, principalmente, aos paraibanos que participaram. Deixamos nossos agradecimentos pela luta e bravura de todos vocês.

Obrigado a todos os ex-combatentes da (FEB) pela sua bravura nos campos de batalha!


sábado, 22 de novembro de 2008

O SONHO DA BORBOLETA


Uma vez sonhei que era uma borboleta, flutuando feliz pelo ares! Mas assim que despertei que meu corpo era humano. o mesmo de sempre, forte, compacto, de carne e osso. Porém, ainda totalmente tomado pelo prazer do vôo e pela sensação da liberdade das asas, pensei assim: Será que isso foi Chuang tse sonhando quw era umna borboleta ou a borboleta sonhando que era Chuang tse?


Chunang tse


O conto adaptado "O sonho da borboleta" foi originalmente publicado na "folhinha", supremento do Jornal Folhar de São Paulo.

domingo, 2 de novembro de 2008

A FÚRIA DO INTERIOR TERRESTRE


O interior da Terra está longe de ser um meio passivo. Pelo contrário, a imagem que prevalece hoje é a de um interior dividido em várias camadas, como uma cebola. A parte central, com um raio de 3,5000 km, e dividida em duas partes, a mais interior, sólida, com um raio de 1.300 km, e a mais exterior, líquida. A densidade no centro da Terra pode ser 12 mil vezes maior que a da água, e a temperatura pode chegar a 5.000°C, comparável à da superfície do Sol. Essa energia todas vem ainda do processo de criação e evolução inicial da Terra, com alguma contribuição de decaimentos radioativos. A Terra continua esfriando até hoje.
Essa parte central é envolta por outra camada, chamada manto, que também tem em torno de 3.000 km de raio. Mesmo que não possamos, como os heróis da aventura Viagem no Centro da Terra, de Jules Verne, visitar o manto, podemos conhecer sua composição por meio de explosão vulcânicas. As lavas que é expulsa nessas explosões vem do manto, o que nos dá uma idéia da incrível complexidade subterrânea de nosso planeta. O manto, por sua vez, é envolto pela crosta terrestre, a fina “capa” com espessura que varia entre 8 km e 15 km que nos protege do caos sob nossos pés. Mas essa proteção nem sempre é eficaz.
O leitor mais cético pode se perguntar: ”Mas como cientistas podem conhecer tão bem o interior da Terra sem irem lá?”. Ótima pergunta. O mapeamento do interior terrestre é um dos vários exemplos em ciência em que extraímos informação sobre algum sistema sem observá-lo diretamente. As informações sobres o mundo subterrâneo nos são reveladas por um dos eventos mais catastróficos do mundo natural, os terremotos.
Se, como descrevi acima, a densidade do interior terrestre aumenta em direção ao centro e a parte superior do manto é feita de maneira rochoso líquido (o magma, que vira lava quando expelido por vulcões), basicamente nós aqui na superfície boiamos sobre esse material. A caldeira infernal do interior gera quantidades enormes de gases que procuram por um escape em direção à superfície. A pressão é tão grande que chega a locomover pedaços da costa, às vezes aproveitando falhas e fissuras. Esses movimentos são os terremotos, como os que ocorreram recentemente na Turquia e em Taiwan, causando a morte de milhares de pessoas. Nós, no Brasil somos abençoados pela ausência de terremotos. E de Vulcões, furações...
Um terremoto que mede 7 na escala Richter (em torno de 25 por ano), libera 1.025 ergs de energia, isto é, 10 trilhões de trilhões de ergs, a energia equivalente à queima de 38 bilhões de litros de gasolina! Essa violência se propaga pela Terra em forma de ondas de dois tipos: as ondas de pressão (ondas–P) e as ondas de torção (ondas – S, do inglês shear). As ondas-P se propagam frontalmente, como uma coluna de dominó que vai caindo quando o primeiro é empurrado, enquanto as ondas-S são mais parecidas com as vibrações verticais da corda de um violão.
Essas ondas partem dos focos do terremoto e se propagam pela Terra em várias direções, emergindo em pontos diferentes do planeta, onde são estudadas por estações sismográficas. A partir das medidas obtidas nessas estações e das propriedades dessas ondas, podemos inferir qual a composição material do interior da Terá, como uma espécie de raio X. Poe exemplo, sabemos que ondas-S são absorvidas por meio líquidos. Usando o fator de que ondas-S jamais são detectadas em pontos diametralmente oposto do planeta, ou seja, que elas não atravessam a Terra passando pela sua região central, deduzimos que essa região deve ser líquida.
Claro, o grande desafio para os que estudam terremotos é a possibilidade de prever quando eles irão ocorrer. Infelizmente, ainda não podemos prever a ocorrência de terremotos, apenas locais de maior risco. A resposta, por enquanto, permanece soterrada no caos subterrâneo. (24/10/1999)
Gleiser, Marcelo
Micro Macro - reflexão sobre o homem, o tempo e o espaço
São Paulo: Publifolha, 2005.

quarta-feira, 29 de outubro de 2008

HOMENS POBRES E “LIVRES” REBELAM-SE: MOVIMENTOS SOCIAIS DO SÉCULO XIX

A historiografia tradicional ao descrever o século XIX enfatiza a região Sudeste e esquece, quase que completamente, a região Nordeste. É como se esta região ao perder a supremacia econômica com a crise do açúcar, tivesse deixado de existir. No entanto, a história continua se desenvolvendo em todos os seus aspectos e os movimentos sociais até se intensificam na medida em que a crise econômica aumenta os conflitos.
Ao tratar dos movimentos sociais do século XIX no Nordeste, enfoca apenas dois movimentos: a Revolução Pernambucana de 1817 e a Confederação do Equador em 1824, isto no início do século, depois passa apresentar os movimento do período regencial com a Sabinada, Balaiada e a Cabanagem e a Farroupilha ocorrida no Sul. Ao abortar a segunda metade do século, a historiografia não trata de nenhum movimento social. É como se o crescimento da econômica nacional, com o fortalecimento dos cafeicultores, tivesse resolvido todos os problemas nacionais e reinasse a paz nas demais regiões do país.
No entanto esta análise é equivocada. Diversos movimentos eclodiram em todo o país. Só para relacionar a região Nordeste, ocorreram insurreições importantes como a revolta de 1878 e o movimento conhecido como “Carne sem osso farinha sem caroço”, ocorrido em Salvador, sem falar no grande massacre de Canudos.
Na segunda metade do século XIX , ocorreram alguns levantes importantes na Paraíba. O Ronco da Abelha apesar de ter sido iniciado nos Estados vizinhos acabou se difundindo na Paraíba e o movimento de Quebra-Quilos que se iniciou na Paraíba e espalhou-se para os estados vizinhos. É preciso ficar claro que estes movimentos têm suas especificidades, mas também têm dois fatores em comum: serem movimentos que envolveram principalmente, homens e mulheres pobres e livres, de áreas em que a concentração de escravos era pequena tendendo a diminuir, e, estes movimentos terem ocorrido em um período de profunda crise econômica e de descaso por parte da monarquia e seus representantes, que nada fazia para responder aos problemas gerados pela crise na região.

Texto produzido pelo o Professor e Escritor: Damião de Lima
Texto Extraído do Livro: Estudando a História da Paraíba – uma coletânea de textos didático- Ano 1999.
Gráfica Offsert Marcone
Editora Cultura Nordestina

O RONCO DA ABELHA (1852 – 1853)


O movimento conhecido como Ronco da Abelha, ocorrido entre dezembro de 1851 e fevereiro de 1852, envolveu vilas e cidades de cinco províncias do Nordeste: Paraíba, Pernambuco, Alagoas, Ceará e Sergipe, sendo mais forte nas duas primeiras províncias.
Na Paraíba levantaram-se as vilas de Ingá, Campina Grande, Fagundes, Areia, Alagoa Grande e Guarabira. Durante os levantes, os engenhos e vilas foram saqueados e os grandes proprietários, bem como as autoridades locais, tiveram que se refugiar para não serem linchadas pela multidão.
Mas o que significava essa revolta? Por que começou? O estopim da revolta foram dois decretos lançados em junho de 185. O primeiro decreto, o 797, tratava do recenseamento da população, e o segundo, o decreto 789, tratava do Registro Civil no caso de nascimento e óbito, anteriormente feito pela Igreja e que agora, passaria à responsabilidade de funcionários do Estado. O primeiro decreto relacionado ao censo deveria entrar em vigor no dia 15 de julho de 1852 e o decreto que versava sobre o registro civil de nascimento e óbito, no dia 1} de janeiro de 1852.
Declarando-se contrárias ao que chamavam de “Lei do Cativeiro”, as populações dos citados municípios, armados de cacetes, pedras, espingardas e mais o que estivesse ao alcance das mãos e pudesse der utilizado como arma, partiram para mesmo fossem examinados pelos padres. Tal procedimento leva alguns historiadores a verem neste movimento, bem como no movimento Quebra-Quilo apenas o aspecto religioso.
Para se ter uma idéia da violência do movimento, vejamos a citação de Irineu Ferreira Pinto, extraído do Relatório do Presidente Sá e Albuquerque de 1852, sobre o ocorrido em um dos locais:

“Na Vila do Ingá um grupo de mais de 200 populares invadiu a casa do escrivão e “apoderou-se de todos os papeis e livros que encontrou, com o fim de obter a lei ou regulamento acerca dos nascimentos e óbitos, e destruir tudo que existisse e dissesse respeito a este negócio”. Frustrados nesta tentativa, os rebeldes invadiram a casa do delegado e de “outros distintos cidadães amigos do governo” onde “estragarão as sua mobílias e praticavam outros atos de estúpida vingança”. (Cf. HOFFNAGEL, 1990:47)

Aparentemente, esses decreto nada demais teriam a acrescentar que pudessem ser considerados como motivo para tamanha revolta da população. Para entender o que aconteceu ou por que aconteceu, vamos ter que analisar o quadro mais geral da região.
Como já foi colocado desde o século anterior, a economia nordestina não estava bem, com muitas oscilações no seu principal produto de exportação, ou seja, ao açúcar. Na verdade em meados dos XIX esta situação agrava-se, principalmente com o aumento das dívidas dos grandes proprietários de terra que, perdendo seu poderio econômico, perdiam também poder político junto ao poder central.
Com o envolvimento, os grandes proprietários se viram obrigados a desfazerem-se de parte do seu capital “móvel”, no caso os escravo, que foram vendidos para a região Sudeste gerando aqui, outro problema, a falta de mão-de-obra para a manutenção da grande lavoura de exportação, principalmente o algodão, que neste período, estava com preços em ascensão. Fazia-se necessário, portanto, retirar mã0-de-obra da agricultura de subsistência e desviá-la para as plantações contra o que os mesmos consideravam como preguiça, “era preciso obrigar estes vadios a trabalhar”.
Justamente um ano antes dos decretos é assinada a Lei que proíbe o tráfico externo de escravos, aumentando o tráfico interno, e deixando os trabalhadores livres apreensivos, pois eles eram pobres, mas ainda eram livres e queriam assim permanecer.
As discussões em torno dos motivos que contribuíram para este movimento são inúmeras. O historiador Marc Hoffnagel, por exemplo, destaca como motivo para o movimento, principalmente, a questão econômica com a ascensão do preço do algodão, Hamilton Monteiro, contrariando Geraldo Joffily, aborda o movimento a partir de fatores externo, como a participação de elementos do partidos de oposição; enquanto Geraldo Joffily aborda os aspectos interno, dando relevância à organização interna e à visão dos pequenos proprietários que, segundo o mesmo, percebiam claramente as mudanças ocorridas no período e as perdas que estas mudanças estavam acarretando para eles.
Na verdade houve influência do partido de oposição ao governo no movimento, bem como de diversos outros fatores, porém o encadeamento das idéias torna-se lógico para o trabalhador livre da época. Basta fazer a ligação entre a escassez de escravos e o discurso dos grandes proprietários exigindo leis que pusessem fim à resistência ao trabalho a acabasse com a vadiagem além do aparecimento dos “famosos” decretos. Estava armado o palco para a transformação dos trabalhadores e dos seus filhos em escravos. Foi com este pensamento que o povo se levantou contra os seus inimigos imediatos, os grandes proprietários e as autoridades locais, representantes diretos do Estado que, segundo o pensamento reinante no movimento, tencionavam transformá-los em escravos.
Embora esse não fosse o objetivo do Império, ficava difícil convencer o trabalhador do contrário devido as experiências anteriores. Principalmente após a Guerra do Paraguai, onde a população pobre foi extremamente sacrificada. Com isto, o movimento foi se espalhando, “obrigando” o governador a utilizar um de seus principais mecanismos de “convencimento” à população pobre: a Repressão.
Para reprimir o movimento, o governo mobilizou mais de mil soldados da polícia, além da convocação da Guarda Nacional e da utilização de padre Capuchinhos para prometerem a salvação a quem desistisse do movimento e o fogo do inferno a quem não se submetesse.
Apesar da ação enérgica do governado, ficava difícil a repressão porque não se identificavam os líderes, com isso o governo resolveu “criar” os líderes. Muitas pessoas são acusadas, porém não se conseguem provas. Por fim, em 29 de janeiro de 1852, o governo imperial edita o decreto 970 que suspende o decreto 797 e 798. A realização do censo só irá ocorrer vinte anos depois e o registro civil só é implantado com o advento da República, quando ocorre a separação oficial entre Estado e Igreja.

Texto produzido pelo o Professor e Escritor: Damião de Lima
Texto Extraído do Livro: Estudando a História da Paraíba – uma coletânea de textos didático- Ano 1999.
Gráfica Offsert Marcone
Editora Cultura Nordestina

QUEBRA – QUILOS (1874 – 1875)


No dia 31 de outubro de 1874, tem início na Vila de Fagundes, comarca do Ingá, na Paraíba,durante a feira, uma discussão entre o arrematante de impostos que cobrava o chamado imposto de chão (que consistia em uma taxa de 100 mil réis, cobrada aos comerciantes, sobre qualquer mercadoria exposta no pátio da feiras), e os feirantes. Desta discussão partiu-se para a violência e estava iniciado o movimento que ficou conhecido como Quebra-Quilos.

Devido as insatisfações de quase todos os setores sociais da região Nordeste, o movimento cresce e espalha-se pela Paraíba, sendo muito forte nas cidades de Campina Grande e Areia e ramifica-se para os Estados vizinhos, ou seja, Pernambuco, Alagoas e Rio Grande do Norte.

Em Campina Grande, o movimento tem início na feira do sábado 21 de novembro de 1874, onde os revoltosos, receberam as autoridades policiais a pedradas. Neste cenário, “Tomam os sediciosos contra da feira, passam livremente a quebrar as medidas arrebatadas aos comerciantes, a despedaçar as cuias encontradas em mãos dos vendedores retalhistas, a recolher os pesos de todos os tamanhos, atirados em seguida no Açude Velho.” (Almeida, 1962:147 – 148).


Isto não significa dizer que foi um movimento único e coeso. Ao contrário, poderia se dizer que o mesmo se espalhou dentro da Lógica do chamado efeito dominó, pois em cada semana o movimento se dava em um determinado local e a participação da população no mesmo também foi bastante diversificada.

Para alguns historiadores, este movimento teve como principal motivo, a ignorância e o fanatismo religiosos. Só a Título de exemplo vejamos como o movimento é abordado por Elpídio de Almeida:


“Foi um movimento sedicioso sem idealismo, selvático, sem orientação conhecidos, sem chefes descobertos e responsáveis e criminosos, saíram a invadir povoações, vilas e cidades, soltando presos, perseguindo maçons, tomando dinheiro, ameaçando, destruindo pesos e medidas, incendiando os arquivos públicos.” (Almeida, Idem: 147)


e Horácio de Almeida:


“Um exame objetivo das mencionadas causas convence desde logo da improcedência de muitas delas, inclusive subrepticiamente no intuito de acobertar o verdadeiro motivo da mazorca.(...) Resta uma das causas apontadas, a do fanatismo religioso, que foi de todas a que influiu decisivamente no ânimo dos rebeldes.” (Cf. Almeid, Idem: 150 - 1521)

Embora não haja um consenso sobre o motivo que propiciou o surgimento deste movimento, podemos afirmar que não houve um motivo específico e sim uma conjugação de fatores que acabaram por desencadear o mesmo.

Entre estes fatores podemos citar: a) A concentração administrativa promovida pelo Império que aumentou os impostos já existentes e criou novos impostos; b) A adoção do sistema métrico decimal uma “novidade” que era vista pelos trabalhadores pobre como nociva na medida em que era aproveitada pelos comerciantes para diminuir a quantidade de produtos comprados por estes trabalhadores: c) A mudança na lei do recrutamento militar. Estes fatores conjugados com a grande crise por que passava o Nordeste foram o estopim para a revolta.

Como eram crescentes as insatisfações, quase todas as camadas sociais da região acabaram se envolvendo no movimento, umas mais ativas que outras, dependendo do local e dos interesses envolvidos. Participaram do movimento os grandes proprietários, os políticos da oposição, parte do clero e os trabalhadores pobres. Obviamente que cada camada social tinha os seu motivos e os seus objetivos, porém uma participação tão ampla fez com que o movimento tivesse maior repercussão que o movimento tratado anteriormente.

Vejamos os interesses de cada camada social envolvida:

1- Os grandes proprietários, quando não participaram diretamente do movimento, omitiram-se no apoio à repressão do mesmo. Isto porque estavam revoltados com o descaso do governo imperial para com a região, bem como discordavam da nova lei de recrutamento militar que não permitia a substituição do convocado para o serviço militar, por alguém indicado por estes.

2- Os políticos da oposição utilizavam-se de todas as armas para desestabilizar os conservadores que estavam no poder. Neste período já havia sido lançado o Manifesto Republicano, e este movimento poderia muito bem ser utilizado para enfraquecer o governo.

3- O clero estava atravessando uma fase de turbulência com o governo, devido ao avanço da maçonaria e a prisão do bispo D. Vital.

4- Os trabalhadores pobres que compunham a imensa maioria dos rebeldes lutavam contra a cobrança exagerada impostos. O que dificultava ainda mais a sua sobrevivência.


A cobrança de impostos era realmente abusiva, pois, além dos impostos criados pelo coroa, existiam os impostos criados pela administração provincial, os da administração municipal e os abusos cometidos pelos cobradores, com o objetivo de aumentar o seu “salário”. Para se ter uma idéia, muitas vezes os impostos cobrados eram maiores que o valor das mercadorias, e cada vez que o vendedor mudasse de lugar, teria que pagar novo imposto.

Em quase todos os locais ocorrem fatos semelhantes, ou seja. A invasão das feiras com quebra de pesos e medidas do novo sistema métrico decimal destruição dos arquivos das câmaras municipais, coletorias, cartórios civis e criminais, e até os papéis dos correios.

Embora, como já foi citado, diversos setores da sociedade tinham participado do movimento, a repressão, como sempre acabou caindo sobre os trabalhadores pobres. É interessante perceber as contradições no discurso do historiador Elpídio de Almeida, facilitando a identificação de sua posição de lasse. No inicio do seu texto sobre o movimento o historiador declara que “(...)foi um movimento sem chefes descobertos e responsáveis(...)”. Em seguida, no mesmo texto, para justificar

a repressão ocorrida, ele afirma:


“) cabeça dessa selvageria foi João Vieira da Silva, vulgo João Carga d”Água. A frente de seu grupo, o mais numeroso, dirigiu-se no do]ia 26 principalmente à coletoria das Rendas Gerais, repartição do governo provincial, depois ao cartório do tabelião Pedro Américo de Almeida, em seguida à casa da Câmara Municipal, por fim à agência dos correios.(...). Na Paraíba, quem mais exaltado se torna é padre Calisto da Nóbrega, vigário de Campina Grande” (Almeida, Idem: 147/151)


Para acabar com o movimento, o governo da Paraíba, já que não conta com o auxilio dos grandes proprietários de terras, pede e auxílio do Império e também dos governos vizinhos, Pernambuco e Rio Grande do Norte, no que é atendido. A colaboração do Presidente da Província de Pernambuco Henrique Pereira de Lucena causa revolta na oposição liberal que o acusa de traidor do povo, já que o mesmo lutara na Revolta Praieira, reprimida pelos conservadores e agora enviava tropas para reprimir o movimento de Quebra-Quilos aliando-se aos conservadores.

A repressão ao movimento foi violenta, a ação das tropas foi de verdadeira selvageria, aplicada cegamente contra culpados ou inocentes como mostra José Américo de Almeida, no seu livro A Paraíba e seus Problemas, transcrevendo o depoimento do Deputado João Florentino em 1879:


“Fizeram-se prisões em massa, velhos e moços, casados e viúvos, todos acorrentados e alguns metidos em coletes de couro. Eram remetidos para quase asfixiados, caíam sem sentido pelas estradas deitando sangue pela boca”. (Cf. Monteiro, 1987:71)


A repressão aos movimentos populares de forma violenta, nunca foi novidade na região. A novidade desta feita ficou por conta da invenção de um novo instrumento de tortura que, segundo consta, fora inventado pelo Capitão Longuinho. Comandante de uma das colunas que seguiu para combater o movimento no interior: o colete de couro.


O colete de couro, que levou à morte João Carga d”Água,


consistia em costurar-se ao tórax dos presos, muitos inculpados, uma faixa de couro cru, previamente molhada durante horas. A medida que o couro ia comprimido o peito da vítima, causando-lhe muitas vezes morte torturante por asfixia.” (Almeida, op. Cit.:157).


Durante todo o império e até os dias atuais, continuaram e continuam ocorrendo conflitos relacionados aos problemas centrais que originaram estes movimentos, ou seja, descaso das autoridades e privação de qualquer forma de interferência das camadas populares na vida do país. Só utilizando a Repressão é que os governantes conseguiram e vêm conseguindo manter a população à margem das decisões políticas e econômicas do Brasil.



Texto produzido pelo o Professor e Escritor: Damião de Lima

Texto Extraído do Livro: Estudando a História da Paraíba – uma coletânea de textos didático- Ano 1999.

Gráfica Offsert Marcone

Editora Cultura Nordestina

quinta-feira, 23 de outubro de 2008

MÉTODOS PARA DATAR O PASSADO

Quando cientistas dizem que certa espécie de dinossauro existiu há 100 milhões de anos ou que certo microrganismo têm mais de 1 bilhão de anos, certas pessoas levantam os olhos e perguntam: “Mas como isso é possível? Como os cientistas podem saber esse tipo de coisa, se eles não estavam lá pata confirmar?”. Essa pergunta é muito importante, e está na raiz de vários conflitos entre a ciência e a religião. Em particular, religiosos mais radicais, quando afirmam que a Terra tem apenas 6.000 anos porque assim “diz” a Bíblia, negando frontalmente esse tipo de informação científica, Por isso, hoje quero discutir como nós, cientistas, sabemos datar o passado com ótima precisão.

O método usa o decaimento de substâncias radiativas. Como sabemos. Todo elemento químico tem um determinado átomo, cujo núcleo tem certo número de prótons e nêutrons. Por exemplo, o elemento hélio tem dois prótons e dois nêutrons no núcleo. Já os Isótopos de um elemento químico têm o mesmo número de prótons, mas um número diferente de nêutrons. Por Exemplo, um isótopo de hélio, o He-3 (três é o número de prótons mais o de nêutrons), tem apenas um nêutron no núcleo. Conhecendo em torno de 1.500 isótopos, dos quais 305 0c0rremnaturalmente e 1.200 são artificialmente produzido. Dos que ocorrem naturalmente, 25 são isótopos radiativos, isto é, decaem em outros isótopos e/ou elemento químicos,. Esses radioisótopos naturais são usados para datar fósseis e matérias biológicos.

O datamento por radioisótopos baseia-se na lei da radioatividade, descoberta em 1902 por Ernest Rutherford e Frederick Soddy. Essa lei explica a desintegração de átomos radiativos. Todos os métodos usam o fato de que cada radioisótopo decai a uma taxa constante, sua meia-vida. O carbono-14 tem meia-vida de 5.730 anos. Portanto, uma amostra contendo 1 milhão de átomos de C-14 conteria 500 mil após 5.730 anos, 250 mil após 11.460 anos etc. Se soubermos a quantidade de átomos na amostra original, podemos facilmente estimar sua idade atual medindo sua radioatividade. Caso contrário, podemos estimar essa quantidade, pois todos os animais ingerem C-14 depositado em plantas verdes. Quando o animal ou a planta morrem, o nível de C-14 decai, sendo gradativamente transformado no isótopo de nitrogênio, N-14: medindo a quantidade de C-14 e N-14 na amostra, estimamos sua idade. O método é usado para amostras de até 40 mil anos, para evitar erros de contaminação.

Outros isótopos são usados para datar amostras antigas. O rubídio-87 é um isótopo com uma meia-vida de 48,8 bilhões de anos, decaindo no estrôncio-87, que é estável. O método compara a quantidade de dois isótopos, estrôncio-87 (que vem do R-87) e o estrôncio-86, e usado para datar as rochas mais antigas da Terra, com 3,8 bilhões de anos, no sul da Groenlândia. Quando usado em meteoritos, o método acusa uma idade de 4,6 bilhões de anos, aproximadamente a idade do sistema Solar.

Existem vários outros métodos que usam radioisótopo. Esses métodos são replicáveis e quantitativos. Albert Einstein dizia que a ciência sem religião é capenga e que a religião sem ciência é cega. Ou seja, que a ciência nasce de uma inspiração espiritual com relação ao desconhecido, que Einstein atribuía a uma inspiração religiosa. Por outro lado, a religião não pode negar os avanços da ciência, pois corre o perigo de ficar cega. Interpretar a Bíblia como uma descrição literal da história do Universo e da Terra vai de encontro aos achados da ciência moderna. Não acredito que a Bíblia tenha sido escrita com essa intenção, do mesmo modo que artigos científicos não devem ter um conteúdo religiosos. É na complementaridade de ambos que reside a solução desse suposto conflito, na aceitação das missões e dos limites da ciência e da religião em nossas vidas.


Gleiser, Marcelo

Micro Macro – reflexão sobre o homem, o tempo e o espaço

São Paulo : Publifolha, 2005.


QUANDO A SORTE SE DISFAÇA


No país de Sung havia uma família famosa por sua generosidade. Durante várias gerações. Todos viveram em paz e em tranqüilidade até que algo muito estranho aconteceu: uma vaca preta deu à lua um bezerro branco. O chefe da família interpretou o fato como um sinal de alerta e foi até o sábio Confúcio perguntar-lhe sobre o significado desse nascimento.

Confúcio respondeu:

_ Esse bezerro é sinal de felicidade.

Um ano depois, o chefe da família ficou cego de um olho e, na mesma ocasião, a vaca negra deu à luz outro bezerro branco. Então ele pediu que falasse novamente com Confúcio.

Ao ouvir a notícia do nascimento do segundo bezerro branco, Confúcio repetiu:

_ Esse bezerro é sinal de felicidade.

Um ano mais tarde, sem nenhuma razão aparente, o jovem que consultara Confúcio ficou totalmente cego e passou a duvidar da sabedoria do mestre.

Pouco depois, o país de Sung foi atacado por um poderoso exército. Todos os homens foram convocados a lutar. Porém, a guerra foi perdida e os soldados que defendiam as terras, exterminados. Os únicos sobreviventes do país de Sung foram justamente o pai e seu filho cego.

Assim que a paz se instalou novamente, pai e filho recuperaram a visão. Muito vezes, a sorte se disfarça.

Lieh tse





quarta-feira, 22 de outubro de 2008

SENSIBILIDADE


Há alguns anos atrás, nas Olimpíadas Especiais de Seattie, nove participantes, todos com deficiência mental ou física, alinharam-se para a largada da corrida dos 100 metros rasos. Ao sinal, todos partiram, não exatamente em disparada, mas com vontade de dar o melhor de si, terminar a corrida e ganhar. Todos, com exceção de um garoto, que tropeçou no asfalto, caiu rolando e começou a chorar. Os outros oito ouviram o choram. Diminuíram o passo e olharam para trás. Então eles vieram e voltaram. Todos Eles. Uma das meninas com Síndrome de Down, ajoelhou, deu um beijo no garoto e disse:

-Pronto, agora vai sarar.

E todos os nove competidores deram os braços e andaram juntos atém a linha de chegada. O Estágio inteiro levantou e os aplausos duraram muitos minutos. E as pessoas que estavam ali, naquele dia, continuaram contando essa história até hoje. Talvez os atletas fossem deficientes mentais... mas, com certeza, não eram deficientes da sensibilidade...

E lá no fundo, todos nós sabemos, o que importam nesta vida é mais do que ganhar sozinho. O que importa nesta vida é ajudar os outros a vencer, mesmo que isso signifique diminuir o passo e mudar de curso.

sábado, 11 de outubro de 2008

REBELDIA NO NORDESTE EM 1817: A REPÚBLICA DE QUASE TODAS AS CLASSSES



A transferência da Corte Portuguesa para o Brasil-Colônia acarretou graves conseqüências para o Nordeste, porque o Regente D. João Concebeu a idéia que a região era uma fonte inesgotável de recursos que dariam para sustentar sua política dispendiosa nas construções suntuosas do Rio de Janeiro, nos faustos da Corte e em guerras inconseqüentes. Para cobrir tanta despesa, resolveu taxar pesadamente o comércio das províncias que mais exportavam produtos tropicais.
Entre 1817-1817, o Nordeste estava sufocado pela seca devastadora, pelo s impostos altos e pelo monopólio imposto por Portugal. Para completar, o açúcar e o algodão, produtos tradicionais nordestinos, estavam passando por momentos de baixa em suas cotações nos centros europeus. A situação era precária, não só para grandes proprietários e comerciantes ligados às exportações, mas. Também para a massa da população que sentia o peso da carestia sob produtos de subsistência, atingidos pela seca de 1816.
A população nordestina estava, pois, sufocada: artesãos, militares, lavradores, padres, classe média sentiam na pele, os dissabores da política joanina. A insatisfação é generalizada. Desta maneira, diversos segmentos da sociedade local recebem com euforia as idéias liberais vindas da Europa e divulgadas pelas lojas maçônicas – Restauração, Patriotismo, Paraíso, Pernambuco do Ocidente – pelo areópago de Itambé e pelos seminários de Olinda e Recife.
Os adeptos do liberalismo político pregavam a “lusofobia” e a “descolonização”, fermentando idéias que se alastravam em pontos estratégicos de Pernambuco. Assim, dentro dos moldes coloniais, preparava-se uma revolução.
O governador dos pernambucanos, Caetano pinto Montenegro, era criticado e ridicularizado pela sociedade. Enquanto isso, os revoltosos, imbuídos de liberdade, começaram a tramar secretamente a revolução; encontravam-se nas maçonarias, nas academias, nos seminários, em casas particulares, formando focos de rebeldia contra o governo.
Tantas reuniões não passavam desapercebidas ao governador que recebia denúncias sobre as tramas e os seus líderes. Um determinado comerciante português chegou até Caetano pinto e revelou que ocorreria, naquele ano de 1817, uma conspiração séria contra ele e o rei de Portugal. Avisado do fato, o governador ordenou de imediato a prisão dos principais cabeças do levante planejado.
A lenha foi jogada na fogueira. Os militares que ganhavam pouco, sofriam ainda quando reclamavam dos soldo. Quando viram colegas presos, organizaram um regimento para ajudar os rebeldes presos na Fortaleza de Cinco Pontas onde se deu uma grande refrega e algumas mortes.
Este episódio precipitou o movimento revolucionário e, em 6 de março de 1817, ruas inteiras de Recife foram invadidas por centenas de revoltosos, entre os quais estavam juízes, padres, militares, comerciantes, proprietários etc. O governador fugiu para o Forte do Brum e os rebeldes tomaram o poder. Provisoriamente, se organiza um “Governo Revolucionário de Todas as classes’ nos moldes do Diretório Francês de 1795. Era o primeiro governo nacional no Brasil! À frente do mesmo, ficaram: Manuel Correia, agricultor; Domingos José Martins, comerciante; Padre João Ribeiro, clérigo; José Luís Martins, magistrado; Domingo Teotônio,militar e, como secretário, o Padre Miguelino, bastante querido na província.
O entusiasmo logo se estendeu e chegou à Paraíba, através de Itabaiana, Pilar e Vila Nova da Rainha, hoje Campina Grande. Os líderes paraibanos forneceram armas e munição ao povo que os seguis e marcharam para a capital. No percurso, encontraram proprietários e homens armados que os seguiam como voluntários.
Os revolucionários proclamaram a República na Paraíba em 15 de março e elegeram uma junta constituída de quatro de seus membros. Medidas de caráter revolucionários foram adotadas: aboliu-se as Ouvidorias e Câmaras portuguesas; os tributos sobre a carne verde; suprimiram-se as insígnias reais; proibiu-se a remoção do gado para o interior, determinou-se a criação de novas sesmarias, regulou-se a administração dos índios e adotou-se a bandeira da República na Paraíba.
A revolta se alastrou até o Rio Grande do Norte, Alagoas, Ceará, com focos espalhados no litoral e interior. Muitos aceitaram o governo provisório, mas os revolucionários de “Tadas as Classes” não incluíram os escravos em seus propósitos, não planejaram a libertação dos mesmos... A própria República implantada estava longe de ser homogênea: seus representantes estavam divididos entre moderados e radicais e, chegaram a adotar os termos “patriota” e “nós” como forma de tratamento.
O governo provisório “republicano” criou uma “lei orgânica” para vigorar até que se fizesse uma Constituição. O texto da “lei orgânica” se norteou em princípios básicos, tais como: liberdade de imprensa e consciência; tolerância religiosa; abolição de impostos; direito de propriedade; uma nova bandeira; preferir mandioca a pão, beber cachaça em vez de vinho...
A reação joanina não se fez esperar. Perseguições violentas por terra e por mar foram organizadas pelo Conde de Arcas que partiu da Bahia e foi bloqueando portos pelo litoral até chegar em Recife e cerca a cidade. A carnificina foi geral, houve um verdadeiro banho de sangue, festejando a vitória legalista. O saldo de revolta, foi de mais de 100 mortes, 150 feridos gravemente, 26 mortes, 400 homens presos nas prisões. 800 degredados, 2 “suicidados”... Para completar a desgraça, D. João VI mandou publicar um edital, alertando os nordestinos sobre possíveis revoltas. O mesmo dizia:
“as penas se executam nos réus, os quais todos depois de mortos, terão cortadas as mãos que se pregarão nos quartéis e serão decepadas as cabeças que se pregarão em postos e nas principais cidades e o resto de seus cadáveres serão ligados a caudas de cavalos e arrastados até o cemitério”.
A República de 1817 foi, assim, sufocada. Depois desta repressão violenta, as lojas maçônicas foram fechadas, os seminários ameaçados, o areópago perseguido. O governo republicano na Paraíba, implantado em 15 de março foi deposto em 5 de maio, face capitulação dos revolucionários sob promessas de não retaliações. Tadavia, logos em seguida, líderes como os paraibanos Amaro Gomes Coutinho, Peregrino de Carvalho. Padre Antônio Pereira, Francisco Jose da Silveira e Inácio Maranhão tornaram-se mártires, quando foram sumariamente executados, tendo seus cadáveres retalhados e expostos em lugares públicos.
Os requintes de crueldade, porém, não amedrontaram o Nordeste, porque a semente plantada em 1917, vai germinar em 1824, na Confederação do Equador.

Texto produzido pela a escritora: Leonília Maria de Amorim
Extraído do Livro
Estudando a História da Paraíba – uma coletânea de textos didático- Ano 1999.
Gráfica Offset Marcone
Editora Cultura Nordestina

sexta-feira, 10 de outubro de 2008

O HOMEM SEGUIU O BOI PELOS SERTÕES: A PECUÁRIA


Capistrano de Abreu, antigo historiador brasileiro, ao pesquisar o interior nordestino, constatou a utilização marcante do couro de boi em muitos utensílios, tais como: portas e janelas das cabanas, leitos para dormir, bancos e tamboretes de assentos, cordas bornais, alforjes para comida, mochilas para milhar, peias para animais, chicotes, arreios, bruacas de faca, surrões, selas, roupas para entrar no mato etc., formando um todo que àquele historiador denominou de “Civilização do Couro”.

Como Capistrano de Abreu criou o termo “Civilização do Couro”?

Para explicar tal expressão é necessário voltar ao início da colonização nordestina, quando as atividades econômicas desenvolvidas na região, eram voltadas para o mercado externo atendendo às necessidades do comércio metropolitano. Com a pecuária isto não ocorreu, pois houve o desenvolvimento de mercado interno, quando todos os produtos daquela atividades, juntamente com os seus derivados foram utilizados, em larga escala, por meios coloniais.

Qual foi o elemento que começou a atividade pecuária na Paraíba?

Foi o boi que representou um significado elemento de penetração, conquistando e povoado do interior. Para o historiador Nelson Werneck Sodré, a pecuária nordestina, atravessou três fases bem distintas:

Na primeira fase, nas décadas iniciais da colonização, o gado e o engenho formavam uma só unidade e ambos pertenciam ao mesmo dono – assim, o curral era o quintal do engenho. Nesta fase, o gado servia de força atração, e alimentação no engenho;

Na segundada fase, houve necessidade de mais terras para a lavoura canavieira. Esta, foi expulsando a boiada dos limites das áreas agrícolas. As duas atividades se separam, mas continuam pertencendo ao mesmo senhor.

Finalmente, na terceira fase, as duas atividades: gado/lavoura se separa completamente. A pecuária vai penetrar nos sertões paraibanos, quando há um grande aumento dos engenhos e a necessidade de amplas pastagens. Daí, o dono do engenho não é mais o mesmo dono do gado e as ligações enter o chamado sertão pastoril e o litoral agrícola, tornam-se, apenas, periódicas.


Os encontros entre, homens e animais passam a ser nas chamadas “Feiras de Gados”, onde criadores e produtores passaram a trazer dos Sertões aquilo que tinham e levavam na volta um pouco do que necessitavam em seu domínios: havia tracas efetuadas, quase sempre, em espécie.

De onde partia o gado? Como tudo realmente começou?

Naquele tempo colonial, o gado partia de dois grandes centros de irradiação; estes mesmos núcleos eram também centros da agricultura canavieira: eram Bahia e Pernambuco. Destas capitanias partiram correntes de penetração pelos chamados “Sertões de Dentro” (corrente baiana) e “Sertão de Fora” (corrente pernambucana); destas correntes resultou a penetração do interior paraibano.

A boiada seguia o conhecido “Rio do Currais” (Rio São Francisco) e outros como o Rio das Velhas, Rio das Rãs, Rio Vaza-Barris. Nos cursos destes rios ou em suas margem, os boiadeiros estabeleceram curais,locais que abrigavam o gado para o devido descanso, depois de losgas caminhadas em busca de água e alimento.

A penetração do gado nem sempre foi pacífica, porque o homem branco ao seguir o boi provocou muitos levantes dos verdadeiros donos das tarras, o índios, que lutavam bravamente para defender suas posses.

O governo-geral da Colônia passava, então, a contratar bandeirantes, chamados de “Sertanistas de Contrato”, para punir os índios revoltados. Acontece, neste tempo, a “Guerra dos Bárbaros”, que exterminou uma grande quantidade de nativos.

O genocídio praticados pelos brancos foi saudado como vitória. O prêmio dado por Portugal aos”heróis bandeirantes” foi efetuado através da distribuição de sesmarias, grandes lotes de terras que tinham pertencido aos índios.

Nestas sesmarias, tidas como benefícios da Coroa Portuguesa, começaram a aparecer as “fazendas de gado”, estabelecimentos simples que pouca mão-de-obra “livre” o para trabalho.

Depois que a terra era adquirida, o fazendeiro levantava um curral e entregava a responsabilidade da fazenda a um vaqueiro que passava a administrar os trabalhadores necessários à atividade pecuarista: amansar o gado, ferrar bezerros, tirar leite da vacas parideiras, curar bicheiras, extinguir cobras e morcegos, fazer queimada, abrir cacimbas e bebedouros para os animais.

Na pecuária a mão-de-obra era predominantemente livre. Brancos pobres, mamelucos, cafuzos e índios foram aproveitados nesta atividade; estas pessoas se locomoviam com facilidades pelos Sertões, sem vigilância de um patrão ou feitor. Apesar de se propalar que a mão-de-obra na pecuária era quase sempre livre, Diana Galliza descobriu em suas pequisas aqui na Paraíba, através de inventários, mapas e recenseamento de 1872, um número considerável de escravos nos municípios sertanejos. Os escravos eram usados em diversas atividades econômicas das regiões paraibanas, principalmente no criatório. Descobriu a autora, que municípios como Souza, Pombal, Catolé do Rocha usavam muito o braço cativo com aproximação à Pilar que possuía números altos de negro nos engenhos. Havia, também, no mesmo período, um índice elevado de ativos em em Campina Grande, considerada importante centro criatório.

O vaqueiro era presença de destaque e era pago pelo regime de “quarteação”, ou seja, ele recebia um quarto das crias no fim de cinco anos, quando então, já possuía um número de animais suficientes para o seu estabelecimento por conta própria.

Como a pecuária era extensiva (criação de gado à solta) com muitos pastos à disposição, os proprietários dos rebanhos não empregavam nenhuma tecnologia para cuidar das reses que eram muitas em quantidades, mas que deixavam muito a desejar quanto à quantidade das mesmas.

A vida do sertanejo paraibano não eram de fartura; contava na maioria das vezes com leite extraído e carne bovina. Contudo, a vida era mais livre e propiciava uma espécie de lazer no meio rural. Surgiram daí, inúmeros cantadores de viola que lançavam desafios sobre os temas vividos por eles, tocadores de pandeiros, dançarinos de côcos, corredores de vaquejadas, disputadores de argolinhas, foram entre tantas outras coisas, os maiores divulgadores da pecuária paraibana.

Enfim, a pecuária que a princípio foi destinada a desempenhar o papel da atividade complementar à pecuária açucareira, passou a ganhar impulso com a descoberta dos metais na região das Minas Gerais nos fins do século XVIII.

Houve a necessidade urgente de abastecer a zona mineira. Os mineiro passaram a recorrer ao gado nordestino. Isto gerou uma alta no preço da carne bovina, incentivando os criadores a expandir cada vez mais as suas atividades pecuaristas.

Um século depois da penetração homem/boi nos Sertões paraibanos, a pecuária já atingia índices apreciáveis de desenvolvimento, participando das exportação que ocorriam em relação ao couro.

Além do mais, a pecuária paraibana foi responsável pela criação de muitas vilas, freguesias e cidades, como Campina Grande que evoluiu de uma feira de gado.


Texto produzido pela a escritora: Leonília Maria de Amorim

Extraído do Livro

Estudando a História da Paraíba – uma coletânea de textos didático- Ano 1999.

Gráfica Offset Marcone

Editora Cultura Nordestina

segunda-feira, 6 de outubro de 2008

A VIOLENTA ASCENSÃO E QUEDA DOS DINOSSAUROS



Hoje gostaria de abordar um tema que desperta o interesse de cientistas de várias áreas, desde a astrofísica e a geologia até a biologia e a paleontologia: o das causas violentas de ascensão e queda dos dinossauros. Como o leitor pode imaginar, qualquer tópico que misture tantas áreas diferentes de pesquisas cria também polêmica. O consenso vem apenas após muita briga, ou melhor, após pesquisa e discussão acadêmicas.
Os dinossauros reinaram supremos sobre as outras espécies por mais de 100 milhões de anos. Há 65 milhões de anos, eles desapareceram em um intervalo curtíssimo de tempo. A evidência de que extinção ocorreu rapidamente é baseada na espessura da chamada K/T, que separa o Período Cretáceo do Terciário. Em termo geológico, podemos imaginar que a superfície da Terra é como uma torta de camadas, cada uma com um sabor diferente. Do mesmo modo que, para preparar a torta, as camadas são superpostas uma após a outra, a superfície da Terra também retrata a ordem temporal com que as diferentes camadas de sedimentos foram depositadas. Quanto mais profunda for a camada, mais antiga ela é, fundamental como um calendário da história da Terra.
Vários estudos realizados dos “lados” da camada K/T mostram que, de fato, enquanto a camada correspondente ao Período Cretáceo é rica em fósseis de dinossauros,, na camada do Terciário eles são quase inexistentes. Essa conclusão não foi imediata: quando os fósseis são raros, a determinação de sua abundância é muito difícil. Fora isso, em 65 milhões de anos, um grande número de fósseis pode ter sido (e foi) destruído. Hoje está claro que os dinossauros desapareceram mesmo abruptamente há 65 milhões de anos. A causa desse desaparecimento foi um dos focos das brigas, ou melhor, discussões acadêmicas, a que me refiro acima. A maioria dos paleontólogos defende a idéia de que a extinção dos dinossauros tivesse ocorrido gradualmente, devido a uma combinação de causas, incluindo atividades vulcânicas, mudanças climáticas e desequilíbrio na cadeia alimentar. Dale Russell foi um dos poucos paleontólogos a propor um mecanismo diferente. Em 1971, junto com o astrofísico Wallace Tullace, Russsell sugeriu que os dinossauros foram extintos devido à explosão de uma estrela (uma supernova) em nossa vizinhança, que bombardeou a Terra com doses letais de radiação. O Catastrofismo entrava triunfalmente na paleontologia.
Durante a década de 1980, ficou claro que 70% das espécies foram extintas há 65 milhões de anos devido ao impacto de um cometa ou um asteróide. A prova é baseada em dois fatos principais: primeiro, encontrou-se o elemento irídio na camada K/T em quantidades muito maiores que o normal, Sabendo que esse elemento é mais abundante em asteróides e cometas do que na Terra. Segundo, a cratera pelo impacto foi descoberta na península de Yucatán, no México. A extinção dos dinossauros permitiu que os mamíferos, até então bastante insignificantes, evoluíssem a ponto de, há 4 milhões de anos, surgirem os primeiros hominídeos. Sem o impacto, provavelmente não estaríamos aqui.
A novidade maior é que, aparentemente, a era dos dinossauros também foi iniciada por um outro impacto cataclísmico. Na transição entre os Períodos Permiano e Triássico, há 250 milhões de anos, 95% das espécies foram dizimadas, tanto nos mares como em Terra. Pelo que sabemos hoje, essa foi a maior extinção na Terra. Ela foi também a extinção que criou as condições que facilitaram a evolução dos dinossauros. Recentemente, cientistas descobriram excesso de um composto de carbono chamado fulereno, que tem o formato de uma bola de futebol. Como uma bola, essa molécula bastante grande pode armazenar gases em seu interior. Uma análise desses gases, principalmente hélio e argônio, mostrou que sua abundância relativa corresponde a quantidade observadas em meteoritos e não às encontradas na Terra. Ou seja, os fulerenos soterrados na camada P/T têm uma origem extraterrestre. Os dinossauros devem a sua ascensão e a sua queda à colisão de corpos celestes com a Terra. Nossa ascensão também se deve, em parte, ao mesmo motivo. Esperemos que não a nossa queda.


Gleiser, Marcelo
Micro Macro – reflexão sobre o homem, o tempo e o espaço
São Paulo : Publifolha, 2005.



sábado, 4 de outubro de 2008

SÍNDROME DE DOWN


A SD (Síndrome de Down) foi descrita pela primeira vez pelo médico Inglês Jonh Longdon Down em 1864. Down descreveu as características e considerou em seu relato que eram pessoas amáveis e amistosas.



1-
  1. ASSOCIAÇÃO VIVA DOWN

É uma entidade civil, sem fins lucrativos, formada por pais, amigos e pessoas com Síndrome de Down que tem como objetivo promover a integração da pessoa com Síndrome de Down em todos os segmentos da sociedade para que ela possa, assim, exercer plenamente sua cidadania.

  1. DIA INTERNACIONAL DA SÍNDROME D DOWN

O dia 21 e março foi escolhido como o Dia Internacional da Síndrome de Down pela Down Sydrome internacional e celebrado pela primeira vez no ano de 2006 em Cingapura e em todo mundo. Este ano o tema é “Sonhe alto o bastante”, onde pretende-se mostrar que os únicos limites que uma pessoa com Síndrome de Down encontra são aqueles que os outros impõem. Não existe limitação no desenvolvimento de um indivíduo com Síndrome de Down: ele será capaz tanto quanto qualquer outro a quem seja oferecido conhecimento, oportunidade, confiança e respeito. Somos todos diferentes como seres individuais. Somos todos iguais como cidadãos.

  1. O QUE É SÍNDROME DE DOWN?

A Síndrome de down não é uma doença. É uma alteração genética, que ocorre durante a divisão celular. O indivíduo com Síndrome de Down possui 47 cromossomos (e não 46), sendo o cromossomo extra ligado ao par 21. Não se deve dizer que um indivíduo “está com Síndrome de Down” ou “foi acometido de Síndrome de Down “. O correto é dizer que alguém tem Síndrome de Down. Nunca use pejorativos para referir-se a alguém por causa de sua deficiência e nem permita que outros o façam. É uma atitude agressiva e mal educada que deve ser combatida e evitada. O preconceito é fruto do desconhecimento. Informe-se. Aprender a conhecer e conviver com a diversidade é uma atitude inteligente que traz benefícios a todos.




domingo, 28 de setembro de 2008

A MEDIÇÃO DA IDADE DO UNIVERSO



O Universo não pode ser mais jovem do que suas estrelas. Apesar de óbvia, essa afirmação já deu muito dor de cabeça aos astrônomos e cosmólogos. Em 1929, o astrônomo Americano Edwin Hubble, ao ao estudar a luz proveniente de galáxias em nossa vizinhança, concluiu que estas estavam se afastando de nós com velocidades proporcionais às suas distâncias; quando mais longe a galáxia, maior sua velocidade de recessão. Bem, raciocinou Hubble, se passarmos o filme ao contrário, já que conhecemos as velocidades com que galáxias estão se afastando de nós, podemos estimar quanto tempo se passou desde que elas todas ocupavam um volume bem pequeno. Esse intervalo de tempo nos daria uma estimativa da idade mínima do universo. Sua estimativa foi de 2 bilhões de anos.
O problema com essa primeira medição é que já se sabia então que a Terra era mais velha do que isso. Como a terra pode ser mais velha que o Universo? Boa pergunta. Apenas em 1952, medidas mais precisas das distâncias até as galáxias mostraram que o Universo poderia ter em torno de 10 bilhões de anos, uma idade bem mais respeitável.
Da idade da Terra, passou-se a estudar a idade das estrelas. Para medir a idade de uma estrela, devemos saber como ela funciona. Basicamente, uma estrela normal, como o Sol, é uma fornalha nuclear gigantesca, que converte uma quantidade absurda de hidrogênio em hélio. (O Sol converte cerca de 600 milhões de toneladas de hidrogênio em hélio por segundo! Um quilo dessa conversão pode alimentar uma lâmpada de 100 watts por 1 milhão de anos.). Após passos intermediários, quatro átomos de hidrogênio são convertidos em um átomo de hélio, pelo processo de fusão nuclear. E, aqui, a teoria da relatividade faz o resto; como energia pode se transformar em matéria e vice-versa (E= mc²), e a massa de um átomo de hélio é menor que a de quatro átomo de hidrogênio, o excesso de massa é transformado, durante a fusão, em energia. Estrela são verdadeiros laboratórios alquímicos, capazes de gerar elementos químicos de maior massa a partir de elementos mais leves, algo que ludibriou os alquimistas aqui na Terra durante muitos séculos; não é fácil reproduzir o interior de uma estrela no laboratório. A energia produzida pela estrela fornece a pressão necessária para contrabalançar sua implosão pela gravidade.
O estudo da vida das estrelas (e de sua inevitável morte, quando o combustível em sua região central se esgota) usa programas de simulação em computador sofisticados. Os resultados são comparados com observações astronômicas da luminosidade e da temperatura da estrela, que são usadas para determinar sua idade. Medidas atuais colocam a idade das estrelas mais velhas do Universo em 9 bilhões e 12 bilhões de anos.
E as medidas atuais da idade do Universo? Durante as últimas três décadas. A comunidade astronômica mundial se viu dividida entre dois grupos, com opiniões e resultados diferentes. Basicamente, os dois grupos diferiam em suas estimativas por um fator de dois, que colocava a idade do Universo entre 10 e 12 bilhões de anos. No dia 25 de maio, um grupo de astrônomos, usando o telescópio espacial Hubble, revelou os resultados de observações dos últimos dos últimos oito anos.
A partir de dados colhidos em 800 estrelas de 18 galáticas situadas a distâncias de até 65 milhões de anos-luz, o grupo, liderado pela americana Wendy Freedman, concluiu que a idade do Universo está entre 12 e 13,5 bilhões de anos. Um número que, apesar de bem próximo da idade das estrelas mais velhas, é maior o bastante para que a controvérsia fique parcialmente resolvida.
A história não termina aqui. Agora, os teóricos estudarão como essa medidas influenciam seus modelos da evolução do Universo, inclusive se ele irá ou não continuar sua expansão indefinidamente. Aparentemente sim. Mas ainda é muito cedo para concluir algo de definitivo com relação ao destino do cosmos. (20/6/1999)



Gleiser, Marcelo
Micro Macro – reflexão sobre o homem, o tempo e o espaço
São Paulo : Publifolha, 2005.



quinta-feira, 18 de setembro de 2008

DOCE PRIMAVERA

Um jovem chamado Sung estudava no Templo da Doce Primavera, quando, ao anoitecer, deparou-se com uma garota lindíssima que o observava do lado de fora da janela.

_ Como você parece compenetrado quando estuda! _ ela lhe disse.

O templo da Doce Primavera ficava isolado no alto de montanhas rochosas e Sung surpreendeu-se por encontrar esta jovem desconhecida nos seus arredores. Ele sorriu e ficou quieto, sem saber o que responder. A jovem rapidamente aproximou-se dele e Sung admirou-se com a leveza de seus movimentos e a alegria de seu lindo sorriso. “Será que ela é humana? Ou se trata de uma miragem, uma espécie de aparição?”. Ele pensou. E como se adivinhasse seus pensamentos, a jovem lhe disse:

_ Eu sou real e quero fazer-lhe companhia!

Sentindo-se muio atraído por ela, Sung passou a noite em claro, conversando e rindo com a bela desconhecida.

_ Você tem uma voz maravilhosa _ ele lhe disse. _ Todas as palavras que pronuncia parecem impregnadas de uma doçura sobrenatural.

Ela sorriu e cantou, marcando o ritmo da canção com os pés delicados, uma canção que dizia:


Os pássaros não sabem entoar

o canto da meia-noite

e o frio não pode me afastar

de meu jovem mestre e senhor


A melodia era tão deliciosa que parecia doçar o ar, tocando o coração do rapaz. E, enquanto ele a ouvia, completamente deliciado, a jovem abriu a porta, olhou para fora e disse:

_ Eu só precisava ter certeza de que estamos a sós.

_ Mas por quê? Você está com medo de algo?

_ Existe um antigo provérbio que diz assim: “o espírito que se infiltra na vida deve temer tudo e todos”.

Sem compreende o significado dessas palavras, o jovem a abraçou, apaixonado, e ela acrescentou:

_ Logo terei que partir. Sinto perigo à espreita. Minha vida está chegando ao fim.

Sung não acreditou naquelas palavras, apenas sorriu e tentou tranqüilizá-la, mas a jovem não se acalmava e pediu para que ele a acompanhasse até a porta.

_ Preciso respirar o ar puro - ela lhe disse, e saiu para o jardim.

Sung a aguardou, certo de que ela voltaria rapidamente. Mas isso não aconteceu, Preocupado, ele a procurou por todo os arredores do templo, mas não conseguiu encontrá-la. Nervoso. Ele voltou para dentro do templo na esperança de tê-la de volta, mas ao entrar, ouviu apenas a voz suave e abafada da jovem, em prantos. Percebendo que o som de choro saía das plantas do jardim, caminhou em direção dele, mas, no lugar da garota, encontrou uma teia de aranha na qual uma abelha pequenina fora aprisionada. Sung libertou a abelha dos fios e a depositou, cuidadosamente, sobre sua escrivaninha. Quando a abelha conseguiu se mover, ela molhou as patinhas na tinta e caminhou sobre uma folha de papel, escrevendo um única palavra:

OBRIGADA!

Em seguida, alçou vôo e saiu pela janela para nunca mais voltar.


P'u Sung-ling


O HOMEM QUE TENTAVA MOVER MONTANHAS


Ofereço esta história a Gersivan, que ao longo de sua vida luta para remover a montanha que o impede de ser feliz. Espero que você goste da homenagem do seu amigo e professor Jadson.


Num vale cercado por duas imensas montanhas vivia um velho. Seu apelido era Velho Louco porque ele sempre inventava projetos impossíveis.

Certo dia, o Velho Louco ficou cansado de ter que dar a volta nas montanhas para sair do vale. Reuniu sua família e declarou:

_ Precisamos remover essa montanha que fica no meio do caminho!

Seu filho e seu neto ficaram muito animados com a idéia e queriam começar a remover a montanha imediatamente. Mas a mulher do velho ficou brava:

_ Você já tem noventa anos! Você não tem força para remover montanha nenhuma! Será que isso não é outra de suas famosas loucuras? Como é possível alguém de sua idade remover uma montanha?

Mas o velho não desistiu de sua idéia.

_ Podemos transportar a terra das montanhas para o mar!

No dia seguinte, o Velho Louco, seu filho e seu neto, munidos de pás e enxadas, caminharam em direção às montanhas. Nisso, receberam a ajuda de outro jovem que vivia perto. Juntos. Os quatros trabalharam dia e noite.

Quando chegou o inverno, um sábio da cidade resolveu removê-lo de sua idéia, temendo que morressem de frio. Ele disse:

_ Velho Louco, na sua idade você já devia saber que sua idéia é maluca! Você está fraco. Como pode achar que irá remover uma montanha?

O Velho Louco suspirou e respondeu:

_ Sua cabeça é dura demais. Até uma criança é mais sabida do que você. Não dá para perceber que, mesmo que eu nunca termine esse trabalho, meu filho e meu neto o levarão adiante? E se eles não conseguirem remover essa montanha, virão seus filhos e netos para continuar, A montanha, por sua vez, não cresce. Então, se cada geração tirar um pedacinho dela, um dia ela desaparecerá.

Sem argumentos para defender-se, o sábio partiu.

O Tempo passou, o Velho Louco e seu filho continuaram escavando a montanha, mas, embora as pessoas fizessem piadas sobre eles, os espíritos da montanha ficaram preocupados. Eles perceberam que o Velho Louco era determinado e que a montanha, com o tempo, realmente desapareceria, mesmo que isso só acontecesse num futuro remoto.

Assustados, os espíritos dirigiram-se aos senhores dos céus e lhe contaram o que acontecia, As divindades ficaram curiosas com a atitude do Velho Louco e decidiram auxiliá-lo. Certa noite, enviaram dos gigantes para para levar as montanhas embora; uma foi carregada para o leste, outra para o oeste. Na manhã seguinte, quando as pessoas olharam pelas janelas, as montanhas que bloqueavam o caminho tinham, simplesmente, desaparecido.