quinta-feira, 18 de setembro de 2008

DOCE PRIMAVERA

Um jovem chamado Sung estudava no Templo da Doce Primavera, quando, ao anoitecer, deparou-se com uma garota lindíssima que o observava do lado de fora da janela.

_ Como você parece compenetrado quando estuda! _ ela lhe disse.

O templo da Doce Primavera ficava isolado no alto de montanhas rochosas e Sung surpreendeu-se por encontrar esta jovem desconhecida nos seus arredores. Ele sorriu e ficou quieto, sem saber o que responder. A jovem rapidamente aproximou-se dele e Sung admirou-se com a leveza de seus movimentos e a alegria de seu lindo sorriso. “Será que ela é humana? Ou se trata de uma miragem, uma espécie de aparição?”. Ele pensou. E como se adivinhasse seus pensamentos, a jovem lhe disse:

_ Eu sou real e quero fazer-lhe companhia!

Sentindo-se muio atraído por ela, Sung passou a noite em claro, conversando e rindo com a bela desconhecida.

_ Você tem uma voz maravilhosa _ ele lhe disse. _ Todas as palavras que pronuncia parecem impregnadas de uma doçura sobrenatural.

Ela sorriu e cantou, marcando o ritmo da canção com os pés delicados, uma canção que dizia:


Os pássaros não sabem entoar

o canto da meia-noite

e o frio não pode me afastar

de meu jovem mestre e senhor


A melodia era tão deliciosa que parecia doçar o ar, tocando o coração do rapaz. E, enquanto ele a ouvia, completamente deliciado, a jovem abriu a porta, olhou para fora e disse:

_ Eu só precisava ter certeza de que estamos a sós.

_ Mas por quê? Você está com medo de algo?

_ Existe um antigo provérbio que diz assim: “o espírito que se infiltra na vida deve temer tudo e todos”.

Sem compreende o significado dessas palavras, o jovem a abraçou, apaixonado, e ela acrescentou:

_ Logo terei que partir. Sinto perigo à espreita. Minha vida está chegando ao fim.

Sung não acreditou naquelas palavras, apenas sorriu e tentou tranqüilizá-la, mas a jovem não se acalmava e pediu para que ele a acompanhasse até a porta.

_ Preciso respirar o ar puro - ela lhe disse, e saiu para o jardim.

Sung a aguardou, certo de que ela voltaria rapidamente. Mas isso não aconteceu, Preocupado, ele a procurou por todo os arredores do templo, mas não conseguiu encontrá-la. Nervoso. Ele voltou para dentro do templo na esperança de tê-la de volta, mas ao entrar, ouviu apenas a voz suave e abafada da jovem, em prantos. Percebendo que o som de choro saía das plantas do jardim, caminhou em direção dele, mas, no lugar da garota, encontrou uma teia de aranha na qual uma abelha pequenina fora aprisionada. Sung libertou a abelha dos fios e a depositou, cuidadosamente, sobre sua escrivaninha. Quando a abelha conseguiu se mover, ela molhou as patinhas na tinta e caminhou sobre uma folha de papel, escrevendo um única palavra:

OBRIGADA!

Em seguida, alçou vôo e saiu pela janela para nunca mais voltar.


P'u Sung-ling


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