sábado, 11 de outubro de 2008

REBELDIA NO NORDESTE EM 1817: A REPÚBLICA DE QUASE TODAS AS CLASSSES



A transferência da Corte Portuguesa para o Brasil-Colônia acarretou graves conseqüências para o Nordeste, porque o Regente D. João Concebeu a idéia que a região era uma fonte inesgotável de recursos que dariam para sustentar sua política dispendiosa nas construções suntuosas do Rio de Janeiro, nos faustos da Corte e em guerras inconseqüentes. Para cobrir tanta despesa, resolveu taxar pesadamente o comércio das províncias que mais exportavam produtos tropicais.
Entre 1817-1817, o Nordeste estava sufocado pela seca devastadora, pelo s impostos altos e pelo monopólio imposto por Portugal. Para completar, o açúcar e o algodão, produtos tradicionais nordestinos, estavam passando por momentos de baixa em suas cotações nos centros europeus. A situação era precária, não só para grandes proprietários e comerciantes ligados às exportações, mas. Também para a massa da população que sentia o peso da carestia sob produtos de subsistência, atingidos pela seca de 1816.
A população nordestina estava, pois, sufocada: artesãos, militares, lavradores, padres, classe média sentiam na pele, os dissabores da política joanina. A insatisfação é generalizada. Desta maneira, diversos segmentos da sociedade local recebem com euforia as idéias liberais vindas da Europa e divulgadas pelas lojas maçônicas – Restauração, Patriotismo, Paraíso, Pernambuco do Ocidente – pelo areópago de Itambé e pelos seminários de Olinda e Recife.
Os adeptos do liberalismo político pregavam a “lusofobia” e a “descolonização”, fermentando idéias que se alastravam em pontos estratégicos de Pernambuco. Assim, dentro dos moldes coloniais, preparava-se uma revolução.
O governador dos pernambucanos, Caetano pinto Montenegro, era criticado e ridicularizado pela sociedade. Enquanto isso, os revoltosos, imbuídos de liberdade, começaram a tramar secretamente a revolução; encontravam-se nas maçonarias, nas academias, nos seminários, em casas particulares, formando focos de rebeldia contra o governo.
Tantas reuniões não passavam desapercebidas ao governador que recebia denúncias sobre as tramas e os seus líderes. Um determinado comerciante português chegou até Caetano pinto e revelou que ocorreria, naquele ano de 1817, uma conspiração séria contra ele e o rei de Portugal. Avisado do fato, o governador ordenou de imediato a prisão dos principais cabeças do levante planejado.
A lenha foi jogada na fogueira. Os militares que ganhavam pouco, sofriam ainda quando reclamavam dos soldo. Quando viram colegas presos, organizaram um regimento para ajudar os rebeldes presos na Fortaleza de Cinco Pontas onde se deu uma grande refrega e algumas mortes.
Este episódio precipitou o movimento revolucionário e, em 6 de março de 1817, ruas inteiras de Recife foram invadidas por centenas de revoltosos, entre os quais estavam juízes, padres, militares, comerciantes, proprietários etc. O governador fugiu para o Forte do Brum e os rebeldes tomaram o poder. Provisoriamente, se organiza um “Governo Revolucionário de Todas as classes’ nos moldes do Diretório Francês de 1795. Era o primeiro governo nacional no Brasil! À frente do mesmo, ficaram: Manuel Correia, agricultor; Domingos José Martins, comerciante; Padre João Ribeiro, clérigo; José Luís Martins, magistrado; Domingo Teotônio,militar e, como secretário, o Padre Miguelino, bastante querido na província.
O entusiasmo logo se estendeu e chegou à Paraíba, através de Itabaiana, Pilar e Vila Nova da Rainha, hoje Campina Grande. Os líderes paraibanos forneceram armas e munição ao povo que os seguis e marcharam para a capital. No percurso, encontraram proprietários e homens armados que os seguiam como voluntários.
Os revolucionários proclamaram a República na Paraíba em 15 de março e elegeram uma junta constituída de quatro de seus membros. Medidas de caráter revolucionários foram adotadas: aboliu-se as Ouvidorias e Câmaras portuguesas; os tributos sobre a carne verde; suprimiram-se as insígnias reais; proibiu-se a remoção do gado para o interior, determinou-se a criação de novas sesmarias, regulou-se a administração dos índios e adotou-se a bandeira da República na Paraíba.
A revolta se alastrou até o Rio Grande do Norte, Alagoas, Ceará, com focos espalhados no litoral e interior. Muitos aceitaram o governo provisório, mas os revolucionários de “Tadas as Classes” não incluíram os escravos em seus propósitos, não planejaram a libertação dos mesmos... A própria República implantada estava longe de ser homogênea: seus representantes estavam divididos entre moderados e radicais e, chegaram a adotar os termos “patriota” e “nós” como forma de tratamento.
O governo provisório “republicano” criou uma “lei orgânica” para vigorar até que se fizesse uma Constituição. O texto da “lei orgânica” se norteou em princípios básicos, tais como: liberdade de imprensa e consciência; tolerância religiosa; abolição de impostos; direito de propriedade; uma nova bandeira; preferir mandioca a pão, beber cachaça em vez de vinho...
A reação joanina não se fez esperar. Perseguições violentas por terra e por mar foram organizadas pelo Conde de Arcas que partiu da Bahia e foi bloqueando portos pelo litoral até chegar em Recife e cerca a cidade. A carnificina foi geral, houve um verdadeiro banho de sangue, festejando a vitória legalista. O saldo de revolta, foi de mais de 100 mortes, 150 feridos gravemente, 26 mortes, 400 homens presos nas prisões. 800 degredados, 2 “suicidados”... Para completar a desgraça, D. João VI mandou publicar um edital, alertando os nordestinos sobre possíveis revoltas. O mesmo dizia:
“as penas se executam nos réus, os quais todos depois de mortos, terão cortadas as mãos que se pregarão nos quartéis e serão decepadas as cabeças que se pregarão em postos e nas principais cidades e o resto de seus cadáveres serão ligados a caudas de cavalos e arrastados até o cemitério”.
A República de 1817 foi, assim, sufocada. Depois desta repressão violenta, as lojas maçônicas foram fechadas, os seminários ameaçados, o areópago perseguido. O governo republicano na Paraíba, implantado em 15 de março foi deposto em 5 de maio, face capitulação dos revolucionários sob promessas de não retaliações. Tadavia, logos em seguida, líderes como os paraibanos Amaro Gomes Coutinho, Peregrino de Carvalho. Padre Antônio Pereira, Francisco Jose da Silveira e Inácio Maranhão tornaram-se mártires, quando foram sumariamente executados, tendo seus cadáveres retalhados e expostos em lugares públicos.
Os requintes de crueldade, porém, não amedrontaram o Nordeste, porque a semente plantada em 1917, vai germinar em 1824, na Confederação do Equador.

Texto produzido pela a escritora: Leonília Maria de Amorim
Extraído do Livro
Estudando a História da Paraíba – uma coletânea de textos didático- Ano 1999.
Gráfica Offset Marcone
Editora Cultura Nordestina

Um comentário:

  1. Eu francisco Almeida
    Adorei conhecer um dos fatos histórico de nossa paraiba, através deste texto.

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