quarta-feira, 29 de outubro de 2008

O RONCO DA ABELHA (1852 – 1853)


O movimento conhecido como Ronco da Abelha, ocorrido entre dezembro de 1851 e fevereiro de 1852, envolveu vilas e cidades de cinco províncias do Nordeste: Paraíba, Pernambuco, Alagoas, Ceará e Sergipe, sendo mais forte nas duas primeiras províncias.
Na Paraíba levantaram-se as vilas de Ingá, Campina Grande, Fagundes, Areia, Alagoa Grande e Guarabira. Durante os levantes, os engenhos e vilas foram saqueados e os grandes proprietários, bem como as autoridades locais, tiveram que se refugiar para não serem linchadas pela multidão.
Mas o que significava essa revolta? Por que começou? O estopim da revolta foram dois decretos lançados em junho de 185. O primeiro decreto, o 797, tratava do recenseamento da população, e o segundo, o decreto 789, tratava do Registro Civil no caso de nascimento e óbito, anteriormente feito pela Igreja e que agora, passaria à responsabilidade de funcionários do Estado. O primeiro decreto relacionado ao censo deveria entrar em vigor no dia 15 de julho de 1852 e o decreto que versava sobre o registro civil de nascimento e óbito, no dia 1} de janeiro de 1852.
Declarando-se contrárias ao que chamavam de “Lei do Cativeiro”, as populações dos citados municípios, armados de cacetes, pedras, espingardas e mais o que estivesse ao alcance das mãos e pudesse der utilizado como arma, partiram para mesmo fossem examinados pelos padres. Tal procedimento leva alguns historiadores a verem neste movimento, bem como no movimento Quebra-Quilo apenas o aspecto religioso.
Para se ter uma idéia da violência do movimento, vejamos a citação de Irineu Ferreira Pinto, extraído do Relatório do Presidente Sá e Albuquerque de 1852, sobre o ocorrido em um dos locais:

“Na Vila do Ingá um grupo de mais de 200 populares invadiu a casa do escrivão e “apoderou-se de todos os papeis e livros que encontrou, com o fim de obter a lei ou regulamento acerca dos nascimentos e óbitos, e destruir tudo que existisse e dissesse respeito a este negócio”. Frustrados nesta tentativa, os rebeldes invadiram a casa do delegado e de “outros distintos cidadães amigos do governo” onde “estragarão as sua mobílias e praticavam outros atos de estúpida vingança”. (Cf. HOFFNAGEL, 1990:47)

Aparentemente, esses decreto nada demais teriam a acrescentar que pudessem ser considerados como motivo para tamanha revolta da população. Para entender o que aconteceu ou por que aconteceu, vamos ter que analisar o quadro mais geral da região.
Como já foi colocado desde o século anterior, a economia nordestina não estava bem, com muitas oscilações no seu principal produto de exportação, ou seja, ao açúcar. Na verdade em meados dos XIX esta situação agrava-se, principalmente com o aumento das dívidas dos grandes proprietários de terra que, perdendo seu poderio econômico, perdiam também poder político junto ao poder central.
Com o envolvimento, os grandes proprietários se viram obrigados a desfazerem-se de parte do seu capital “móvel”, no caso os escravo, que foram vendidos para a região Sudeste gerando aqui, outro problema, a falta de mão-de-obra para a manutenção da grande lavoura de exportação, principalmente o algodão, que neste período, estava com preços em ascensão. Fazia-se necessário, portanto, retirar mã0-de-obra da agricultura de subsistência e desviá-la para as plantações contra o que os mesmos consideravam como preguiça, “era preciso obrigar estes vadios a trabalhar”.
Justamente um ano antes dos decretos é assinada a Lei que proíbe o tráfico externo de escravos, aumentando o tráfico interno, e deixando os trabalhadores livres apreensivos, pois eles eram pobres, mas ainda eram livres e queriam assim permanecer.
As discussões em torno dos motivos que contribuíram para este movimento são inúmeras. O historiador Marc Hoffnagel, por exemplo, destaca como motivo para o movimento, principalmente, a questão econômica com a ascensão do preço do algodão, Hamilton Monteiro, contrariando Geraldo Joffily, aborda o movimento a partir de fatores externo, como a participação de elementos do partidos de oposição; enquanto Geraldo Joffily aborda os aspectos interno, dando relevância à organização interna e à visão dos pequenos proprietários que, segundo o mesmo, percebiam claramente as mudanças ocorridas no período e as perdas que estas mudanças estavam acarretando para eles.
Na verdade houve influência do partido de oposição ao governo no movimento, bem como de diversos outros fatores, porém o encadeamento das idéias torna-se lógico para o trabalhador livre da época. Basta fazer a ligação entre a escassez de escravos e o discurso dos grandes proprietários exigindo leis que pusessem fim à resistência ao trabalho a acabasse com a vadiagem além do aparecimento dos “famosos” decretos. Estava armado o palco para a transformação dos trabalhadores e dos seus filhos em escravos. Foi com este pensamento que o povo se levantou contra os seus inimigos imediatos, os grandes proprietários e as autoridades locais, representantes diretos do Estado que, segundo o pensamento reinante no movimento, tencionavam transformá-los em escravos.
Embora esse não fosse o objetivo do Império, ficava difícil convencer o trabalhador do contrário devido as experiências anteriores. Principalmente após a Guerra do Paraguai, onde a população pobre foi extremamente sacrificada. Com isto, o movimento foi se espalhando, “obrigando” o governador a utilizar um de seus principais mecanismos de “convencimento” à população pobre: a Repressão.
Para reprimir o movimento, o governo mobilizou mais de mil soldados da polícia, além da convocação da Guarda Nacional e da utilização de padre Capuchinhos para prometerem a salvação a quem desistisse do movimento e o fogo do inferno a quem não se submetesse.
Apesar da ação enérgica do governado, ficava difícil a repressão porque não se identificavam os líderes, com isso o governo resolveu “criar” os líderes. Muitas pessoas são acusadas, porém não se conseguem provas. Por fim, em 29 de janeiro de 1852, o governo imperial edita o decreto 970 que suspende o decreto 797 e 798. A realização do censo só irá ocorrer vinte anos depois e o registro civil só é implantado com o advento da República, quando ocorre a separação oficial entre Estado e Igreja.

Texto produzido pelo o Professor e Escritor: Damião de Lima
Texto Extraído do Livro: Estudando a História da Paraíba – uma coletânea de textos didático- Ano 1999.
Gráfica Offsert Marcone
Editora Cultura Nordestina

2 comentários:

  1. Desculpe mas percebi alguns erros na sa pesquisa e se quiser ajuda para reformular o arquivo me mande um e-mail carol_mathias@yahoo.com.br .
    Fora isso sua pesqui está muito boa e me ajudou muito num trabalho escolar..
    Mas não são erros graves.. Só digitação..
    Mas todos estamos propensos a erros né não ^^

    ResponderExcluir
  2. muito bom o texto,me ajudou bastante!.

    ResponderExcluir