sexta-feira, 10 de outubro de 2008

O HOMEM SEGUIU O BOI PELOS SERTÕES: A PECUÁRIA


Capistrano de Abreu, antigo historiador brasileiro, ao pesquisar o interior nordestino, constatou a utilização marcante do couro de boi em muitos utensílios, tais como: portas e janelas das cabanas, leitos para dormir, bancos e tamboretes de assentos, cordas bornais, alforjes para comida, mochilas para milhar, peias para animais, chicotes, arreios, bruacas de faca, surrões, selas, roupas para entrar no mato etc., formando um todo que àquele historiador denominou de “Civilização do Couro”.

Como Capistrano de Abreu criou o termo “Civilização do Couro”?

Para explicar tal expressão é necessário voltar ao início da colonização nordestina, quando as atividades econômicas desenvolvidas na região, eram voltadas para o mercado externo atendendo às necessidades do comércio metropolitano. Com a pecuária isto não ocorreu, pois houve o desenvolvimento de mercado interno, quando todos os produtos daquela atividades, juntamente com os seus derivados foram utilizados, em larga escala, por meios coloniais.

Qual foi o elemento que começou a atividade pecuária na Paraíba?

Foi o boi que representou um significado elemento de penetração, conquistando e povoado do interior. Para o historiador Nelson Werneck Sodré, a pecuária nordestina, atravessou três fases bem distintas:

Na primeira fase, nas décadas iniciais da colonização, o gado e o engenho formavam uma só unidade e ambos pertenciam ao mesmo dono – assim, o curral era o quintal do engenho. Nesta fase, o gado servia de força atração, e alimentação no engenho;

Na segundada fase, houve necessidade de mais terras para a lavoura canavieira. Esta, foi expulsando a boiada dos limites das áreas agrícolas. As duas atividades se separam, mas continuam pertencendo ao mesmo senhor.

Finalmente, na terceira fase, as duas atividades: gado/lavoura se separa completamente. A pecuária vai penetrar nos sertões paraibanos, quando há um grande aumento dos engenhos e a necessidade de amplas pastagens. Daí, o dono do engenho não é mais o mesmo dono do gado e as ligações enter o chamado sertão pastoril e o litoral agrícola, tornam-se, apenas, periódicas.


Os encontros entre, homens e animais passam a ser nas chamadas “Feiras de Gados”, onde criadores e produtores passaram a trazer dos Sertões aquilo que tinham e levavam na volta um pouco do que necessitavam em seu domínios: havia tracas efetuadas, quase sempre, em espécie.

De onde partia o gado? Como tudo realmente começou?

Naquele tempo colonial, o gado partia de dois grandes centros de irradiação; estes mesmos núcleos eram também centros da agricultura canavieira: eram Bahia e Pernambuco. Destas capitanias partiram correntes de penetração pelos chamados “Sertões de Dentro” (corrente baiana) e “Sertão de Fora” (corrente pernambucana); destas correntes resultou a penetração do interior paraibano.

A boiada seguia o conhecido “Rio do Currais” (Rio São Francisco) e outros como o Rio das Velhas, Rio das Rãs, Rio Vaza-Barris. Nos cursos destes rios ou em suas margem, os boiadeiros estabeleceram curais,locais que abrigavam o gado para o devido descanso, depois de losgas caminhadas em busca de água e alimento.

A penetração do gado nem sempre foi pacífica, porque o homem branco ao seguir o boi provocou muitos levantes dos verdadeiros donos das tarras, o índios, que lutavam bravamente para defender suas posses.

O governo-geral da Colônia passava, então, a contratar bandeirantes, chamados de “Sertanistas de Contrato”, para punir os índios revoltados. Acontece, neste tempo, a “Guerra dos Bárbaros”, que exterminou uma grande quantidade de nativos.

O genocídio praticados pelos brancos foi saudado como vitória. O prêmio dado por Portugal aos”heróis bandeirantes” foi efetuado através da distribuição de sesmarias, grandes lotes de terras que tinham pertencido aos índios.

Nestas sesmarias, tidas como benefícios da Coroa Portuguesa, começaram a aparecer as “fazendas de gado”, estabelecimentos simples que pouca mão-de-obra “livre” o para trabalho.

Depois que a terra era adquirida, o fazendeiro levantava um curral e entregava a responsabilidade da fazenda a um vaqueiro que passava a administrar os trabalhadores necessários à atividade pecuarista: amansar o gado, ferrar bezerros, tirar leite da vacas parideiras, curar bicheiras, extinguir cobras e morcegos, fazer queimada, abrir cacimbas e bebedouros para os animais.

Na pecuária a mão-de-obra era predominantemente livre. Brancos pobres, mamelucos, cafuzos e índios foram aproveitados nesta atividade; estas pessoas se locomoviam com facilidades pelos Sertões, sem vigilância de um patrão ou feitor. Apesar de se propalar que a mão-de-obra na pecuária era quase sempre livre, Diana Galliza descobriu em suas pequisas aqui na Paraíba, através de inventários, mapas e recenseamento de 1872, um número considerável de escravos nos municípios sertanejos. Os escravos eram usados em diversas atividades econômicas das regiões paraibanas, principalmente no criatório. Descobriu a autora, que municípios como Souza, Pombal, Catolé do Rocha usavam muito o braço cativo com aproximação à Pilar que possuía números altos de negro nos engenhos. Havia, também, no mesmo período, um índice elevado de ativos em em Campina Grande, considerada importante centro criatório.

O vaqueiro era presença de destaque e era pago pelo regime de “quarteação”, ou seja, ele recebia um quarto das crias no fim de cinco anos, quando então, já possuía um número de animais suficientes para o seu estabelecimento por conta própria.

Como a pecuária era extensiva (criação de gado à solta) com muitos pastos à disposição, os proprietários dos rebanhos não empregavam nenhuma tecnologia para cuidar das reses que eram muitas em quantidades, mas que deixavam muito a desejar quanto à quantidade das mesmas.

A vida do sertanejo paraibano não eram de fartura; contava na maioria das vezes com leite extraído e carne bovina. Contudo, a vida era mais livre e propiciava uma espécie de lazer no meio rural. Surgiram daí, inúmeros cantadores de viola que lançavam desafios sobre os temas vividos por eles, tocadores de pandeiros, dançarinos de côcos, corredores de vaquejadas, disputadores de argolinhas, foram entre tantas outras coisas, os maiores divulgadores da pecuária paraibana.

Enfim, a pecuária que a princípio foi destinada a desempenhar o papel da atividade complementar à pecuária açucareira, passou a ganhar impulso com a descoberta dos metais na região das Minas Gerais nos fins do século XVIII.

Houve a necessidade urgente de abastecer a zona mineira. Os mineiro passaram a recorrer ao gado nordestino. Isto gerou uma alta no preço da carne bovina, incentivando os criadores a expandir cada vez mais as suas atividades pecuaristas.

Um século depois da penetração homem/boi nos Sertões paraibanos, a pecuária já atingia índices apreciáveis de desenvolvimento, participando das exportação que ocorriam em relação ao couro.

Além do mais, a pecuária paraibana foi responsável pela criação de muitas vilas, freguesias e cidades, como Campina Grande que evoluiu de uma feira de gado.


Texto produzido pela a escritora: Leonília Maria de Amorim

Extraído do Livro

Estudando a História da Paraíba – uma coletânea de textos didático- Ano 1999.

Gráfica Offset Marcone

Editora Cultura Nordestina

Um comentário:

  1. É Jadson Ta muito massa mesmo teu site
    textos super interessantes
    Adorei
    Ass: Gustavo Pamplona

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