sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

Por que o homem é o único mamífero que permanece ingerindo leite na fase adulta da vida?




Escrito por Dra. Adriane E. C. Antunes



Por que o homem é o único mamífero que permanece ingerindo leite na fase adulta da vida?

O homem parece ser o único mamífero adulto que continua a beber leite após o desmame. No entanto, muitos mamíferos adultos de outras espécies apreciam o leite. Porém, sendo o leite um alimento de alto custo, não costuma ser destinado à alimentação de animais, para os quais apenas é ofertado soro de leite oriundo da produção de queijo.

O desmame feito pelas fêmeas das diversas espécies ocorre não porque o leite deixou de ser adequado para a cria, mas sim para que a cria passe a ingerir outros alimentos, visto que suas necessidades nutricionais não são mais satisfeitas plenamente pelo consumo exclusivo de leite. Além disso, o desmame representa uma forma da fêmea de poupar energia, visto que em alguns casos ela está em novo processo de gestação.

O homem, assim como qualquer outro animal, não poderia obter cálcio unicamente por ingestão de vegetais?

Primeiramente é preciso considerar que os organismos herbívoros e onívoros são fisiologicamente diferentes. Os ruminantes, por exemplo, precisam de muitas horas para realizar o processo digestivo, que inclui os eventos de mastigação, digestão e ruminação (a fibra não digerida no rúmen é regurgitada à boca para ser novamente mastigada). As girafas, por exemplo, passam quase 20 horas por dia se alimentando; prática não compatível com a dieta, fisiologia e atividade humana.

Outro fator importante é que, com os danos na camada de ozônio e o aumento da incidência de câncer de pele, o homem tem se exposto menos ao sol e tem feito uso de protetor solar. A vitamina D, promotora da absorção intestinal do cálcio, necessita ser ativada a partir de seu precursor, pela ação de raios ultravioleta.

Portanto, é conveniente que o homem tenha boas fontes de cálcio dietético para evitar ocorrência de osteoporose na terceira idade.

Quais são os benefícios do leite de vaca?

O leite de vaca representa uma importante fonte de nutrientes para a dieta humana, especialmente devido à sua composição proteica e mineral. Em relação às vitaminas, o leite é rico em vitamina B2, biotina e, sendo o leite integral, vitaminas A e D. Os lácteos representam a melhor fonte de cálcio dietético, beneficiando a saúde óssea e dos dentes. Além do alto valor nutricional, o leite contém componentes com propriedades funcionais.

Quais os problemas de saúde relacionados com o consumo de leite?

Para algumas pessoas o consumo de leite e/ou produtos lácteos deve ser parcialmente ou completamente restringido devido a disfunções tais como hipersensibilidade às proteínas do leite de vaca, intolerância à lactose, hipersensibilidade às aminas biogênicas e galactosemia.

A versão integral do leite contém ácidos graxos saturados e colesterol e, portanto, produtos lácteos desnatados ou nas versões light devem ser preferidos por pessoas com dislipidemias (ex.: hipercolesterolemia) e doenças coronarianas.

O leite mais adequado para o consumo humano é o leite materno. É adequado ao homem ingerir leite de outras espécies?

Existem cerca de 4.000 espécies de mamíferos. A composição do leite dessas espécies varia grandemente, adequando-se às necessidades nutricionais que lhes são específicas, portanto, cada leite é específico para sua espécie. O leite materno é realmente o mais adequado nutricionalmente para o ser humano. Da mesma forma, na perspectiva do canibalismo, a carne humana apresentaria o melhor balanceamento de aminoácidos para a dieta humana. Obviamente, consumo de leite e carne humana não são socialmente aceitos, independentemente dos aspectos nutricionais...

Pela observação da natureza, mamíferos de uma espécie podem ingerir leite de outra espécie, como exemplo do gato que aceita beber leite de vaca e, aparentemente, aprecia bastante.

Sem tomar em conta fatores culturais, filosóficos e religiosos, o homem adulto é um ser onívoro desde o período pré-histórico e, portanto, o consumo de leite de outras espécies é possível.

Por que o leite pode causar alergia em algumas pessoas e em outras não?

É conveniente esclarecer que existe uma confusão entre as pessoas entre intolerância à lactose (ou hipolactasia) e alergia ao leite (ou hipersensibilidade ao leite).

A primeira se refere à incapacidade de digerir a lactose, que representa o “açúcar do leite”, devido à deficiência ou ausência da enzima lactase (ou b-galactosidase).

Alergia alimentar é decorrente de uma reação do sistema imunológico a proteínas ou parte dessas moléculas (antígenos), provocando em resposta a liberação de anticorpos, histamina e outros agentes defensivos. A hipersensibilidade ao leite está relacionada, portanto, com a fração proteica do leite e é uma doença quase que exclusiva dos lactentes e da infância, normalmente desaparecendo entre os 3 e 4 anos de idade.

Embora haja certa homologia entre a composição proteica do leite de vaca e do leite humano, há também substanciais diferenças tanto quanto ao tipo de proteínas presentes quanto às suas quantidades relativas.

No leite de vaca é encontrada a proteína b-lactoglobulina que é ausente no leite materno. Essa proteína pode desencadear alergia alimentar em alguns bebês e adultos. Não existe consenso em qual seja a proteína do leite de maior alergenicidade no leite de vaca, embora a a-lactoalbumina e a aS1-caseína sejam acusadas de serem as proteínas mais alergênicas.

O leite de cabra é uma boa opção para pessoas alérgicas ao leite de vaca?

O leite de cabra tem sido indicado nos casos de alergia ao leite de vaca, tendo em vista sua mais fácil digestão.

A alergia ao leite de cabra por crianças é pouco frequente, porque esse leite apresenta concentração baixa de a-s1-caseína, um importante componente alergênico do leite. Além disso, esse tipo de leite contém maiores quantidades de ácidos graxos de cadeia curta e média (que são de mais fácil digestão) e formam glóbulos de gordura menores, facilitando o processo de digestão.

Todavia, é importante lembrar que crianças com 0 a 6 meses de idade devem receber aleitamento materno e qualquer substituto para o leite materno deve ser indicado por um pediatra ou nutricionista. A introdução precoce de outro tipo de leite pode favorecer a ocorrência de alergias devido à imaturidade do sistema digestório.


Dra. Adriane E. C. Antunes é doutora em Alimentos e Nutrição pela UNICAMP e Pós-Doutora no Instituto de Tecnologia de Alimentos ITAL/TECNOLAT (2008), docente em regime de dedicação exclusiva da Faculdade de Ciências Aplicadas da UNICAMP, Campus de Limeira, na Faculdade de Nutrição, pesquisadora Convidada do TECNOLAT/ITAL e professora da Escola Técnica Estadual de Hortolândia do Centro Paula Souza, no curso de Nutrição e Dietética. É também autora do livro “Leite para Adultos: mitos e fatos frente à ciência”, juntamente com a Dra. Maria Teresa Bertoldo Pacheco.

Fonte: IDMED



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