sábado, 28 de novembro de 2009

TESTOSTERONA NOS IDOSOS


Dr. Eduardo Feire Vasconcellos

O que é testosterona?

Chama-se de testosterona um pool, ou seja, um conjunto de hormônios. A testosterona é o principal hormônio masculino secretado pelo testículo, e é produzido em quantidade próxima a 7 mg/dia. Em torno de 95% da testosterona provém dos testículos, e o restante é originário da suprarrenal. Este hormônio é também presente nas mulheres, porém em escala bem menor, representando em média 20% do padrão masculino.

Como ela age no organismo do homem?

A testosterona exerce seus efeitos nos diferentes órgãos, agindo diretamente sobre estes, como androgênio, ou após conversão a um metabólito ativo à diidrotestosterona*, ou também pode servir de precursor para o estradiol (hormônio feminino) e desta forma induzindo efeitos estrogênio-símiles, ou seja, acarretando feminilização.

A testosterona é o principal hormônio para manutenção do tônus muscular, desenvolvimento da massa muscular, é essencial para densidade mineral óssea, para presença de caracteres sexuais secundários masculinos, é fundamental para vitalidade, auxilia na formação de células vermelhas, dessa forma impedindo anemia, tem importante ação no núcleo de prazer hipotalâmico, tornando o indivíduo menos propenso à depressão, é determinante na libido e na função erétil.

Com o avanço da idade os níveis de testosterona diminuem?

Sim, à medida que os homens envelhecem, a produção de testosterona declina, porém, essa diminuição é muito lenta, em média 0,3% ao ano. Diferentemente das mulheres, não existe nos homens uma redução abrupta na secreção de hormônios gonadais. Há, isto sim, um decréscimo gradual que se inicia no adulto jovem e que progride através de décadas. Inúmeros estudos demonstram regressão dos níveis séricos de testosterona total, testosterona livre e SHBG, com o envelhecimento masculino. Isso acarreta o que se convencionou chamar ADAM (Androgen Decline in the Aging Male), ou Declínio Androgênico do Envelhecimento Masculino, DAEM. Vários trabalhos clínicos mostram que a prevalência do hipogonadismo masculino aumenta com a idade. Nos Estados Unidos da América, há dados demonstrando que a doença afeta 2 em cada 10 homens com idade superior a 50 anos, sendo que se estima de 3 a 4 milhões de homens com DAEM, dos quais somente 5% estariam sendo tratados.

O que a falta de testosterona pode provocar no organismo?

As manifestações da produção deficiente de testosterona dependem da época do início do hipogonadismo e da sua gravidade. Caso ocorra entre o 2º e 3º mês do desenvolvimento fetal, teremos graus variados de ambiguidade de genitália e pseudo-hermafroditismo masculino. Se surgir durante o 3º trimestre gestacional, pode acarretar criptorquidismo e micropênis. No período pré-puberal, a deficiência androgênica normalmente leva ao desenvolvimento inadequado dos caracteres sexuais masculinos, tais como: pênis e testículos pequenos, sem o desenvolvimento da rugosidade escrotal puberal e hábitos eunucoides, a voz permanece fina e a massa muscular não se desenvolve plenamente, escassos pelos pubianos e axilares, ausência de pelos da face e tórax, o estirão puberal não acontece, acarretando crescimento desproporcional dos ossos longos dos membros inferiores e superiores, ocasionando envergadura maior que a altura.

A deficiência ou declínio androgênico que aconteça na idade adulta pode gerar quadro clínico com: diminuição da libido, disfunção erétil, baixa de energia, diminuição da pilificação facial ou corporal, atrofia testicular, rugas finas nos cantos da boca e dos olhos, aumento da gordura visceral, diminuição da massa e da força muscular, redução da densidade mineral óssea, maior predisposição à depressão e irritabilidade, aumento da resistência à insulina e maior possibilidade de desenvolvimento de síndrome metabólica.

Quais os sintomas que o baixo nível de testosterona pode provocar?

Os sintomas são geralmente os acima citados, porém dependem da faixa etária em que ocor-rem e do padrão hormonal.

Como é o diagnóstico?

Inicialmente deve-se fazer uma cuidadosa anamnese e exame físico, e havendo suspeita clínica, solicitar avaliação laboratorial dos eixos hormonais de hipófise, tireoide, suprarrenal e gônadas. Nos casos de hipogonadismo hipogonadotrófico, testosterona baixa, com LH e FSH normais ou baixos, deve-se solicitar como complementação diagnóstica imagem da região hipotalâmica-hipofisária. Nos pacientes com hipogonadismo-hipergonadotrófico, testosterona baixa com LH e FSH elevados, pode-se realizar teste agudo com HCG para avaliação testicular. Nos indivíduos com suspeita de DAEM, correlacionar hábitos de vida e exames bioquímicos de lipídeos e glicídios.

O baixo nível de testosterona pode provocar falta de apetite sexual?

Os efeitos dos baixos níveis séricos de testosterona em homens geralmente acarretam dimi-nuição da libido e favorecem a disfunção erétil.

Como é o tratamento hormonal? Há efeitos colaterais?

O objetivo do tratamento é a manutenção da função sexual e dos caracteres sexuais se-cundários masculinos, bem como melhora da qualidade de vida destes indivíduos. Isso é possível, na maioria das vezes, através da administração de testosterona, porém é muito importante frisar que cada situação clínica é individualizada, portanto, não há um tratamento único.

Os suplementos de testosterona podem provocar câncer de próstata?

Essa pergunta motivou vários estudos nas últimas décadas. A etiologia do câncer de próstata, infelizmente, ainda está longe de ser totalmente decifrada, mas sabe-se que é multifatorial. Existe, ainda, muita polêmica com relação à reposição de testosterona e câncer de próstata. No estudo Androgens and Prostate Cancer Risk: A Prospective Study, publicado em 2007, pacientes entre 40 e 60 anos de idade foram acompanhados periodicamente durante 20 anos, e um dos focos desse estudo foi avaliar a relação entre os níveis de testosterona e o câncer de próstata. Não houve, no entanto, nenhuma diferença estatisticamente significativa. Além disso, quando a análise foi feita por quartis, ou seja, quando se dividiu os pacientes de acordo com os níveis séricos de testosterona, os resultados não demonstraram correspondência.

Outro importante estudo foi uma metanálise publicada em 2006, com o título Prostate Cancer and Prostatic Diseases, pelos autores Gould e Kirby, que compilaram os principais estudos nesta área em todo o mundo, totalizando análise de 2.283 pacientes acompanhados durante 15 anos, e observou-se que 22 indivíduos recebendo testosterona apresentaram diagnóstico de câncer de próstata, representando uma taxa de aproximadamente 1%.

Existem outras formas de tratamento?

O tratamento deve ser sempre individualizado e de acordo com o diagnóstico. Não há um tratamento-padrão ou imutável, muito pelo contrário, é necessário monitoramento contínuo do quadro.

Há prevenção?

O hipogonadismo tanto pode ser primário como secundário, e de apresentação diferente em períodos etários distintos, porém, via de regra, as medidas preventivas são individualizadas em cada contexto clínico. Já o DAEM é uma patologia multifatorial e de evolução gradual, desta forma, possibilitando diagnóstico precoce e adoção de medidas preventivas.

Fonte: IDMED

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