sexta-feira, 4 de setembro de 2009

Entenda o que é a camada pré-sal


A chamada camada pré-sal é uma faixa que se estende ao longo de 800 quilômetros entre os Estados do Espírito Santo e Santa Catarina, abaixo do leito do mar, e engloba três bacias sedimentares (Espírito Santo, Campos e Santos). O petróleo encontrado nesta área está a profundidades que superam os 7 mil metros, abaixo de uma extensa camada de sal que, segundo geólogos, conservam a qualidade do petróleo.

Vários campos e poços de petróleo já foram descobertos no pré-sal, entre eles o de Tupi, o principal. Há também os nomeados Guará, Bem-Te-Vi, Carioca, Júpiter e Iara, entre outros.

Um comunicado, em novembro do ano passado, de que Tupi tem reservas gigantes, fez com que os olhos do mundo se voltassem para o Brasil e ampliassem o debate acerca da camada pré-sal. À época do anúncio, a ministra Dilma Rousseff (Casa Civil) chegou a dizer que o Brasil tem condições de se tornar exportador de petróleo com esse óleo.

Tupi tem uma reserva estimada pela Petrobras entre 5 bilhões e 8 bilhões de barris de petróleo, sendo considerado uma das maiores descobertas do mundo dos últimos sete anos.

Neste ano, as ações da estatal tiveram forte oscilação depois que a empresa britânica BG Group (parceira do Brasil em Tupi, com 25%) divulgou nota estimando uma capacidade entre 12 bilhões e 30 bilhões de barris de petróleo equivalente em Tupi. A portuguesa Galp (10% do projeto) confirmou o número.

Para termos de comparação, as reservas provadas de petróleo e gás natural da Petrobras no Brasil ficaram em 13,920 bilhões (barris de óleo equivalente) em 2007, segundo o critério adotado pela ANP (Agência Nacional do Petróleo). Ou seja, se a nova estimativa estiver correta, Tupi tem potencial para até dobrar o volume de óleo e gás que poderá ser extraído do subsolo brasileiro.

Estimativas apontam que a camada, no total, pode abrigar algo próximo de 100 bilhões de boe (barris de óleo equivalente) em reservas, o que colocaria o Brasil entre os dez maiores produtores do mundo.

A Petrobras, uma das empresas pioneiras nesse tipo de perfuração profunda, porém, não sabe exatamente o quanto de óleo e gás pode ser extraído de cada campo e quando isso começaria a trazer lucros ao país.

Ainda no rol de perguntas sem respostas, a Petrobras não descarta que toda a camada pré-sal seja interligada, e suas reservas sejam unitizadas, formando uma reserva gigantesca.

Justamente por conta do desconhecimento sobre o potencial da camada pré-sal o governo decidiu que retomará os leilões de concessões de exploração de petróleo no Brasil apenas nas áreas localizadas em terra e em águas rasas. Afinal, se a camada for única, o Brasil ainda não tem regras de como leiloaria sua exploração.

Assim, toda a região em volta do pré-sal não será leiloada até que sejam definidas as novas regras de exploração de petróleo no país (Lei do Petróleo), que voltaram a ser discutidas pelo Planalto --foi criada uma comissão interministerial para debater modelos em vigor em outros países e o destino dos recursos do óleo extraído.

Além disso, o governo considera criar uma nova estatal para administrar os megacampos, que contrataria outras petrolíferas para a exploração --isso porque os custos de exploração e extração são altíssimos. Os motivos alegados no governo para não entregar a região à exploração da Petrobras são a participação de capital privado na empresa e o risco de a empresa tornar-se poderosa demais.

Opiniões

O diretor de exploração e produção da Petrobras, Guilherme Estrella, disse que a discussão em torno das mudanças no marco regulatório do petróleo não levará em conta o interesse privado.

"Existem vários interesses públicos e privados envolvidos nessa questão. A Petrobras é uma empresa que tem controle governamental, mas tem acionistas privados, que têm que ser respeitados. Ao mesmo tempo, o aproveitamento dessas riquezas é questão de Estado brasileiro", reconheceu.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem feito vários discursos em que mencionou que as reservas pertencem ao "povo brasileiro" e devem ser usadas em benefício do país, como para aplicações na educação. Lula chegou a mencionar que as reservas eram uma chance divina e deveria ser usada para reparar uma dívida com os mais pobres.

A estimativa das reservas na camada pré-sal na bacia de Santos são mais significativas do que na região ultraprofunda das bacias de Campos e do Espírito Santo, disse nesta segunda-feira o diretor de Exploração e Produção da Petrobras, Guilherme Estrella. O executivo explicou que a camada de sal em Campos e Espírito Santo se deslocou ao longo dos anos, fazendo com que o óleo abaixo subisse. Em Santos, a camada de sal manteve-se praticamente intacta, preservando o óleo abaixo dela.

"É o início de uma história, que terá continuidade em Santos. É um poço-escola que vai nos ajudar a construir uma grande base de dados que garantirá a otimização dos investimentos futuros", sintetizou Estrella.

Em função disso, a espessura da camada de sal em Santos ultrapassa os 2.000 metros, enquanto em Campos, por exemplo, varia de 200 a 400 metros. O poço 1-ESS-103A, cuja produção abaixo da camada de sal será iniciada amanhã, tem espessura de sal de 200 metros apenas. Isso não inviabiliza, segundo Estrella, o uso do poço para que sejam colhidas informações a respeito das características de reservatórios do pré-sal.

"A perspectiva para Santos é mais expressiva, mas trata-se uma interpretação geológica. Os mapas que temos hoje indicam que isso, mas amanhã, podemos descobrir coisas que não estavam previstas. Isso é comum na indústria do petróleo", afirmou.

O poço de onde sairá o óleo do pré-sal no Espírito Santo já está em operação desde 2006 no campo de Jubarte, situado na parte capixaba da bacia de Campos, e está interligado à plataforma P-34. O petróleo é retirado de uma profundidade de 1.350 metros. Com as descobertas no pré-sal de Santos, técnicos da estatal decidiram perfurar abaixo do pré-sal, e encontraram mais óleo depois de passarem por uma espessura de 200 metros de sal.

O investimento neste projeto é de R$ 58 milhões. A capacidade máxima prevista para a produção pioneira é de 18 mil barris/dia, considerada elevada pelos engenheiros da Petrobras, por tratar-se de uma fase de testes.

O gerente de Exploração e Produção para os projetos do pré-sal, José Formigli Filho, comparou o início da produção do pré-sal aos testes feitos na década de 80 nos campos de Albacora e Marlim, na bacia de Campos. Atualmente, esses campos tem produção superior a 150 mil barris/dia.

A Petrobras já perfurou quatro poços no pré-sal da bacia de Campos situado no Espírito Santo. Até o fim do ano, serão mais dois poços, que poderão dar uma idéia maior do exato potencial da região. Há suspeita de que o óleo possa se estender para a área de Baleia Azul, vizinha ao Parque das Baleias, onde está situado o campo de Jubarte.

Fonte: Folha Online.

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