segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

HERÓIS DO CASTELLO (Paraibanos que lutaram na II Guerra Mundial relembram a vitória em Monte Castello.)


O dia 21 de fevereiro marca um capítulo especial na história brasileira. Nesta data, há 55 anos, as tropas da FEB (Força Expedicionária Brasileira) dominaram as posições alemães em Monte Castello, na Itália, durante a II Guerra Mundial, depois de três tentativas fracassadas. A Paraíba contribuiu para a vitória com vários “pracinhas” (nome como era conhecido popularmente os soldados da FEB) participando das batalhas. Os fatos, amizades, as perdas e o sofrimento da campanha estão vivos na lembrança destes senhores de cabelos brancos.

“Monte Castello foi uma questão de honra para os brasileiros”, ressalta o ex-combatente José de Oliveira Neves, nascido em Itabaiana e que reside no bairro de Jaguaribe, em João Pessoa. No posto de sargento, Neves comandou uma sessão de metralhadora composta por 14 homens em vários batalhas e lembra que após os fracassos iniciais em Monte Castello a troca brasileira recebeu críticas do comando norte-americano, particularmente após a terceira ação, desencadeada a 12 de dezembro, quando as tropas do 1º Regimento de Infantaria, batizado de Sampaio, e do 11º Regimento de Infantaria recuaram das posições ocupadas no monte.

Já o cabo atirador Benjamim Benedito de Sousa Fonseca, que saiu de sua terra natal, Guarabira, apenas com 17 anos de idade e ingressou como voluntário no 15º Batalhão de Infantaria em João Pessoa, explica que o Monte Castello era semelhante ao restante das elevações da região dos Apeninos, na Itália, onde ocorreram várias batalhas da FEB.”Ele não é muito alto, mas parece com um cuscuz, ou seja, ele é arredondado nas laterais e não oferece muita proteção para quem está atacando”, revela. O cabo Souza também integrou o 2º Batalhão do Regimento de um morteiro.

Outro ex-combatente do Monte Castello é Otávio da Silva Guerra que chegou à Itália como cabo e depois foi promovido para sargento, sendo atualmente presidente da regional da Associação dos Veteranos da FEB que reúne na Paraíba 58 associados. Natural de Alagoa Grande, ele foi convocado para servir no 15º BI, sendo transferido depois para o Rio de Janeiro onde integrou o 3º Batalhão do Regimento “Sampaio”. “Na Guerra não há tempo de ter medo ou coragem, você tem que se desprender de tudo”, salienta.Três tentativas frustradas - O nome de Monte Castello passava a ganhar importância a cada ataque dos brasileiros que era frustrado pelos alemães. A tentativa inicial ocorreu nos dias 24 e 25 de novembro de 1944. A tropa era encabeçada por um grupo tático norte-americano, a Task Force 45, sendo apoiada por um batalhão da FAB. Apesar dos esforços, os atacantes foram rechaçados pois enfrentavam fogo de três posições (gente e flancos esquerdo e direito), porém, conseguiram a posse do Monte Belvedere, situado na lateral esquerda da subida do Castello.

Nova empreitada aconteceu no dia 29 de novembro de 1944. O ataque foi integrado por um batalhão de cada um dos três regimentos da FEB. Contudo, a sorte estava contrária aos brasileiros porque as unidades da 232ª Divisão Alemã que defendiam a posição haviam retomado o Belvedere às forças americanas no dia anterior e assegurado o campo de tiro também no flanco esquerdo dos soldados brasileiros.

O pior, entretanto, ainda estava por vir. O “pracinha” Souza, que havia entrado em ação pela primeira vez em 20 de novembro, relembra o ataque do dia 12 de dezembro. “A gente recebia fogo de todos os lados na subida para o Castello. O frio era terível e o ataque não pôde receber apoio da FAB porque o céu estava encoberto”, comenta, acrescentando que “os tanques americanos também não puderam apoiar. Eu vi muitos companheiros tombarem no ataque”.

As encostas da elevação estavam escorregadias por causa da lama, dificultando ainda mais a ação das forças do Brasil. “O ataque foi dado como fracassado por volta da meia-noite e meia, mas desde às 10 horas já se sabia que não teria sucesso”, ressalta Souza. Já Neve enfatiza que a sorte durante o recuo foi a participação das equipes de morteiro que deram apoio constante e ininterrupto às unidades em retirada.

O dia 12 de dezembro ficou conhecido como o mais triste da campanha da FEB. No ataque malogrado, sob 20 graus negativos do inverno italiano, aconteceram 145 baixas entre mortes e feridos. Somente no 1º Regimento “Sampaio” foram 112 vítimas, enquanto outras 33 pertenciam ao 1º Batalhão do 11º não do 11º Regimento de Infantaria.

Vitória no Castello – Os reveses em Monte Castello, sobretudo o ocorrido em 12 de dezembro de 1944, provocaram críticas e suspeitas relativas ao espírito combativo do soldado brasileiro por parte do comando aliado. Em contrapartida, tornou a conquista da elevação uma questão de honra por parte das forças da FEB. Um novo ataque foi planejado e os brasileiros passaram por treinamentos para o combate na neve durante o mês de janeiro.

O plano para o dia 21 previa a tomada de diversas elevações situadas na região norte dos Apeninos, inclusive Monte Castello. Um trunfo era a presença da 10ª Divisão de Montanha dos Estados Unidos, tropa especializada neste tipo de confronto que assegurou a posse de Monte Belvedere e eliminou o risco de fogo pelo flanco esquerdo aos atacantes do Castello. Já a posse da lateral direita foi garantida pelo ataque do 2º Batalhão do 11º Regimento de Infantaria da FEB. Os avanços, planejados pelo então tenente-coronel Humberto de Alencar Castelo Branco (presidente durante o período da ditadura militar), começaram às 5h30, combinados para ocorrer com apoio de artilharia.

Pouco mais de 12 horas depois, por volta das 17h50, o tenente coronel Emílio Rodrigues Franklin à frente de um pelotão atingiu o cume do monte e repassou a informação ao comando a informação ao comando das tropas. Contudo, ainda não era momento de festejos. Segundo o ex-cabo Souza a ordem era de manter a máxima atenção e não dormir para evitar contra-ataques: “A artilharia continuou durante toda à noite, o fogo era constante”. Os números demonstram a ferocidade da luta: 103 baixas, sendo 12 mortos. A conquista, da região onde estava localizado o Monte Castello empurrou os alemães para o Vale do Pó, setor mais favorável ao ataque já que não era integrado pela geografia composta de inúmeras elevações dos Apeninos.

Notícias do front - Os paraibanos presentes na Itália totalizavam mais de 300 militares. O Estado teve seis mortes em combate. Um deles foi Edésio Afonso de Souza que tombou durante uma patrulha na chamada “terra de ninguém”, setor da frente que não é dominado por nenhum dos lados em conflitos. “Ele entrou numa casa durante a patrulha atrás de um soldado que havia entrado e estava demorando. Só que quando entrou um inimigo o esfaqueou”, conta o ex-sargento Guerra. O ex-combatente Guerra lembra que a capacidade de improviso dos “pracinhas” chamada atenção. Para evitar o chamado “pé-de-trinchedira”, (o congelamento dos pés), os soldados do Brasil criaram uma técnica que consistia em agasalhar os pés com pedaços de panos para aquecê-los. “Não se via soldados brasileiros vítimas do pé-de-trincheira”, frisa Souza. Outro exemplo de criatividade era a colocação, amarrado em paus, de um saco de estopa extremante molhado diante da boca da metralhadora para quando esta disparasse o fogo reduzido e dificultasse a identificação do local onde esta fora instalada por parte dos inimigos. “O saco ficava logo cheio de furos e aí a gente tinha que trocar rápido por outro”, conta Neves.

No prosseguimento da luta, o sargento Guerra foi ferido pela explosão de um tiro de morteiro no dia 5 de abril quando o Monte Belvedere era alvo de bombardeiro. “Eu estava observando o bombardeiro que os alemães estavam fazendo contra as posições do 1º Batalhão. Achei que eles podiam desviar a direção dos disparos, mas aí já era tarde”, comenta. Os estilhaços da explosão nas pernas, tendo ferido ao todo seis “pracinhas” e morto outros dois.

Era o término das ações do combatente Guerra no teatro de operações. Ele sofreu quatro cirurgias para a retirada de estilhaços e até ser evacuado para o Brasil permaneceu no hospital americano de campanha. Em seguida ficou internado no Hospital Central do Exército, no Rio de Janeiro, até receber alta. Após o conflito ele prosseguiu a carreira no Exército. Hoje, ele é casado, tem três filhos e seis netos.

Já Neves também retornou para casa antes do fim da luta. Ele contraiu uma inflamação no olho por conta de claridade da neve. Após os primeiros exames ele conseguiu fazer com que os médicos o deixassem ficar na Itália. Porém, o problema na vista aumentou e, apesar da resistência, ele teve que abandonar o combate. De volta ao Brasil, ele acabou solicitando baixa do Exército e retornou a Paraíba. Atualmente é casado, tem seis filhos e 14 netos.

O cabo Souza passou ileso pela campanha italiana e retornou ao Brasil junto com as demais unidades da FEB. Ele relembra a acolhida no Rio de Janeiro e, em particular, a festa feita pela população de Guarabira para recebê-lo. Em João Pessoa, ele vive com a esposa, possui quatro filhos e oito netos.

Outros acontecimentos – A guerra na Itália prosseguiu até o dia 2 de maio quando os alemães se renderam. No restante da Europa o conflito Terminou a 8 de maio com a ocupação de Berlim pelos soviéticos e a rendição incondicional. As unidades brasileiras seguiram lutando na campanha do Vale do Rio Pó. O fim do conflito ocorreu na localidade de Susa, no norte da Itália, perto da fronteira francesa, quando entraram em contato com a 27ª Divisão Francesa.

A entrada do Brasil na Guerra ocorreu em 1942 após sofrer uma série de afundamentos de navios por parte dos submarinos alemães. O envio de tropas aconteceu em agosto de 1944, já na fase final do conflito. As forças da FEB chegaram à Itália em navios transporte americanos sem nenhum armamento. “Contam que a população local vaiou os brasileiros por que pensava que eram prisioneiros alemães. Até os americanos destacados para recebê-los achou estranho os uniformes”, diz Guerra.

As tropas brasileiras aprisionaram durante os 239 dias que permaneceu em combate dos generais, 892 oficiais, 19.689 praças, 80 canhões, 5 mil viaturas diversas e 4 mil cavalos. Além de Monte Castelo, batalhas como Castelnuovo, Montese e Fornovo também merecem destaque na literatura militar do país. Em montese, por exemplo, foi o lugar onde as forças da FEB enfrentaram o maior bombardeiro alemão da campanha, Já em Fornovo a 148º Divisão de Infantaria da Alemanha, com 14,779 soldados, redeu-se aos brasileiros.


OBSEVAÇÃO: O texto foi extraído da Revista: A Semana de 18 a 25 de fevereiro de 2000. Ano 1. Nº41.


O texto foi republicado pelo BLOG: CONHECIMENTO ONLINE, em homenagem a todos os ex-combatentes brasileiros, principalmente, aos paraibanos que participaram. Deixamos nossos agradecimentos pela luta e bravura de todos vocês.

Obrigado a todos os ex-combatentes da (FEB) pela sua bravura nos campos de batalha!


7 comentários:

  1. Me emociona esta matéria, sinto orgulho pela bravura destes paraibanos especialmente pelo NEVES, querido PAI, meu héroi!
    Ouvi histórias lindas de bravura, todas inesquecíveis!
    Ficavamos horas a fio a escutá-lo... parecia um filme, momentos tristes quando perdiam amigos e momentos de glória quando ganhavam uma batalha. Todos os relatos ficaram para os seis filhos como esinamentos que hoje repassamos aos seu netos, com muito orgulho.
    Leônia Maria Saraiva Neves - João Pessoa/PB

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    1. Ou leonila, sou de itabaiana. Cidade de seu pai. Preciso falar com vc. E-mail flavianomaximus1@hotmail.com

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    2. Oi Leonia. Retificando acima.

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  2. Tivo um tio chamado Francisco de Assis de Melo Azedo, com o qual perdemos o contato desde o final da guerra. Nao sabemos se ele desapareceu na Europa, ou se lhe aconteceu outro acidente.
    Ele era Paraibano de Guarabira. Caso alguem tenha noticia segue meu email: lourival.falcao@gmail.com
    Desde ja, grato.

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  3. parabens pela materia, tenho dois parentes que falam ter estado na II guerra, gostaria de saber se vc tem conhecimento de uma lista dos pracinhas paraibanos, para poder fazer uma pesquisa, obrigado... meu email: alexecoplan@gmail.com

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  4. Este comentário foi removido pelo autor.

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