domingo, 28 de setembro de 2008

A MEDIÇÃO DA IDADE DO UNIVERSO



O Universo não pode ser mais jovem do que suas estrelas. Apesar de óbvia, essa afirmação já deu muito dor de cabeça aos astrônomos e cosmólogos. Em 1929, o astrônomo Americano Edwin Hubble, ao ao estudar a luz proveniente de galáxias em nossa vizinhança, concluiu que estas estavam se afastando de nós com velocidades proporcionais às suas distâncias; quando mais longe a galáxia, maior sua velocidade de recessão. Bem, raciocinou Hubble, se passarmos o filme ao contrário, já que conhecemos as velocidades com que galáxias estão se afastando de nós, podemos estimar quanto tempo se passou desde que elas todas ocupavam um volume bem pequeno. Esse intervalo de tempo nos daria uma estimativa da idade mínima do universo. Sua estimativa foi de 2 bilhões de anos.
O problema com essa primeira medição é que já se sabia então que a Terra era mais velha do que isso. Como a terra pode ser mais velha que o Universo? Boa pergunta. Apenas em 1952, medidas mais precisas das distâncias até as galáxias mostraram que o Universo poderia ter em torno de 10 bilhões de anos, uma idade bem mais respeitável.
Da idade da Terra, passou-se a estudar a idade das estrelas. Para medir a idade de uma estrela, devemos saber como ela funciona. Basicamente, uma estrela normal, como o Sol, é uma fornalha nuclear gigantesca, que converte uma quantidade absurda de hidrogênio em hélio. (O Sol converte cerca de 600 milhões de toneladas de hidrogênio em hélio por segundo! Um quilo dessa conversão pode alimentar uma lâmpada de 100 watts por 1 milhão de anos.). Após passos intermediários, quatro átomos de hidrogênio são convertidos em um átomo de hélio, pelo processo de fusão nuclear. E, aqui, a teoria da relatividade faz o resto; como energia pode se transformar em matéria e vice-versa (E= mc²), e a massa de um átomo de hélio é menor que a de quatro átomo de hidrogênio, o excesso de massa é transformado, durante a fusão, em energia. Estrela são verdadeiros laboratórios alquímicos, capazes de gerar elementos químicos de maior massa a partir de elementos mais leves, algo que ludibriou os alquimistas aqui na Terra durante muitos séculos; não é fácil reproduzir o interior de uma estrela no laboratório. A energia produzida pela estrela fornece a pressão necessária para contrabalançar sua implosão pela gravidade.
O estudo da vida das estrelas (e de sua inevitável morte, quando o combustível em sua região central se esgota) usa programas de simulação em computador sofisticados. Os resultados são comparados com observações astronômicas da luminosidade e da temperatura da estrela, que são usadas para determinar sua idade. Medidas atuais colocam a idade das estrelas mais velhas do Universo em 9 bilhões e 12 bilhões de anos.
E as medidas atuais da idade do Universo? Durante as últimas três décadas. A comunidade astronômica mundial se viu dividida entre dois grupos, com opiniões e resultados diferentes. Basicamente, os dois grupos diferiam em suas estimativas por um fator de dois, que colocava a idade do Universo entre 10 e 12 bilhões de anos. No dia 25 de maio, um grupo de astrônomos, usando o telescópio espacial Hubble, revelou os resultados de observações dos últimos dos últimos oito anos.
A partir de dados colhidos em 800 estrelas de 18 galáticas situadas a distâncias de até 65 milhões de anos-luz, o grupo, liderado pela americana Wendy Freedman, concluiu que a idade do Universo está entre 12 e 13,5 bilhões de anos. Um número que, apesar de bem próximo da idade das estrelas mais velhas, é maior o bastante para que a controvérsia fique parcialmente resolvida.
A história não termina aqui. Agora, os teóricos estudarão como essa medidas influenciam seus modelos da evolução do Universo, inclusive se ele irá ou não continuar sua expansão indefinidamente. Aparentemente sim. Mas ainda é muito cedo para concluir algo de definitivo com relação ao destino do cosmos. (20/6/1999)



Gleiser, Marcelo
Micro Macro – reflexão sobre o homem, o tempo e o espaço
São Paulo : Publifolha, 2005.



quinta-feira, 18 de setembro de 2008

DOCE PRIMAVERA

Um jovem chamado Sung estudava no Templo da Doce Primavera, quando, ao anoitecer, deparou-se com uma garota lindíssima que o observava do lado de fora da janela.

_ Como você parece compenetrado quando estuda! _ ela lhe disse.

O templo da Doce Primavera ficava isolado no alto de montanhas rochosas e Sung surpreendeu-se por encontrar esta jovem desconhecida nos seus arredores. Ele sorriu e ficou quieto, sem saber o que responder. A jovem rapidamente aproximou-se dele e Sung admirou-se com a leveza de seus movimentos e a alegria de seu lindo sorriso. “Será que ela é humana? Ou se trata de uma miragem, uma espécie de aparição?”. Ele pensou. E como se adivinhasse seus pensamentos, a jovem lhe disse:

_ Eu sou real e quero fazer-lhe companhia!

Sentindo-se muio atraído por ela, Sung passou a noite em claro, conversando e rindo com a bela desconhecida.

_ Você tem uma voz maravilhosa _ ele lhe disse. _ Todas as palavras que pronuncia parecem impregnadas de uma doçura sobrenatural.

Ela sorriu e cantou, marcando o ritmo da canção com os pés delicados, uma canção que dizia:


Os pássaros não sabem entoar

o canto da meia-noite

e o frio não pode me afastar

de meu jovem mestre e senhor


A melodia era tão deliciosa que parecia doçar o ar, tocando o coração do rapaz. E, enquanto ele a ouvia, completamente deliciado, a jovem abriu a porta, olhou para fora e disse:

_ Eu só precisava ter certeza de que estamos a sós.

_ Mas por quê? Você está com medo de algo?

_ Existe um antigo provérbio que diz assim: “o espírito que se infiltra na vida deve temer tudo e todos”.

Sem compreende o significado dessas palavras, o jovem a abraçou, apaixonado, e ela acrescentou:

_ Logo terei que partir. Sinto perigo à espreita. Minha vida está chegando ao fim.

Sung não acreditou naquelas palavras, apenas sorriu e tentou tranqüilizá-la, mas a jovem não se acalmava e pediu para que ele a acompanhasse até a porta.

_ Preciso respirar o ar puro - ela lhe disse, e saiu para o jardim.

Sung a aguardou, certo de que ela voltaria rapidamente. Mas isso não aconteceu, Preocupado, ele a procurou por todo os arredores do templo, mas não conseguiu encontrá-la. Nervoso. Ele voltou para dentro do templo na esperança de tê-la de volta, mas ao entrar, ouviu apenas a voz suave e abafada da jovem, em prantos. Percebendo que o som de choro saía das plantas do jardim, caminhou em direção dele, mas, no lugar da garota, encontrou uma teia de aranha na qual uma abelha pequenina fora aprisionada. Sung libertou a abelha dos fios e a depositou, cuidadosamente, sobre sua escrivaninha. Quando a abelha conseguiu se mover, ela molhou as patinhas na tinta e caminhou sobre uma folha de papel, escrevendo um única palavra:

OBRIGADA!

Em seguida, alçou vôo e saiu pela janela para nunca mais voltar.


P'u Sung-ling


O HOMEM QUE TENTAVA MOVER MONTANHAS


Ofereço esta história a Gersivan, que ao longo de sua vida luta para remover a montanha que o impede de ser feliz. Espero que você goste da homenagem do seu amigo e professor Jadson.


Num vale cercado por duas imensas montanhas vivia um velho. Seu apelido era Velho Louco porque ele sempre inventava projetos impossíveis.

Certo dia, o Velho Louco ficou cansado de ter que dar a volta nas montanhas para sair do vale. Reuniu sua família e declarou:

_ Precisamos remover essa montanha que fica no meio do caminho!

Seu filho e seu neto ficaram muito animados com a idéia e queriam começar a remover a montanha imediatamente. Mas a mulher do velho ficou brava:

_ Você já tem noventa anos! Você não tem força para remover montanha nenhuma! Será que isso não é outra de suas famosas loucuras? Como é possível alguém de sua idade remover uma montanha?

Mas o velho não desistiu de sua idéia.

_ Podemos transportar a terra das montanhas para o mar!

No dia seguinte, o Velho Louco, seu filho e seu neto, munidos de pás e enxadas, caminharam em direção às montanhas. Nisso, receberam a ajuda de outro jovem que vivia perto. Juntos. Os quatros trabalharam dia e noite.

Quando chegou o inverno, um sábio da cidade resolveu removê-lo de sua idéia, temendo que morressem de frio. Ele disse:

_ Velho Louco, na sua idade você já devia saber que sua idéia é maluca! Você está fraco. Como pode achar que irá remover uma montanha?

O Velho Louco suspirou e respondeu:

_ Sua cabeça é dura demais. Até uma criança é mais sabida do que você. Não dá para perceber que, mesmo que eu nunca termine esse trabalho, meu filho e meu neto o levarão adiante? E se eles não conseguirem remover essa montanha, virão seus filhos e netos para continuar, A montanha, por sua vez, não cresce. Então, se cada geração tirar um pedacinho dela, um dia ela desaparecerá.

Sem argumentos para defender-se, o sábio partiu.

O Tempo passou, o Velho Louco e seu filho continuaram escavando a montanha, mas, embora as pessoas fizessem piadas sobre eles, os espíritos da montanha ficaram preocupados. Eles perceberam que o Velho Louco era determinado e que a montanha, com o tempo, realmente desapareceria, mesmo que isso só acontecesse num futuro remoto.

Assustados, os espíritos dirigiram-se aos senhores dos céus e lhe contaram o que acontecia, As divindades ficaram curiosas com a atitude do Velho Louco e decidiram auxiliá-lo. Certa noite, enviaram dos gigantes para para levar as montanhas embora; uma foi carregada para o leste, outra para o oeste. Na manhã seguinte, quando as pessoas olharam pelas janelas, as montanhas que bloqueavam o caminho tinham, simplesmente, desaparecido.



sexta-feira, 12 de setembro de 2008

A VINGANÇA DE LAI-TAN

Quando o pai de Lai-Tan foi morto durante uma luta, o jovem jurou vingar-se.

Porém, Lai-Tan não era capaz de sentir ódio, além de ser magro e não praticar artes marciais. Para piorar a situação, o homem que derrotara o pai de Lai-Tan era forte e violento, um perito em lutas com espadas. Vaidoso, gabava-se de ter derrotado o pai e prometia destruir o filho de seu inimigo, assim que chegasse a hora certa.

Certo dia, desanimado, Lai-Tan confessor a um amigo:

_ Eu não sei mais o que fazer, você pode me ajudar?

E o amigo lhe disse:

_ Ouvir dizer que na região de Wei vive um nobre que tem uma espada mágica. Essa arma é tão poderosa que, mesmo nas mãos de uma criança, pode derrotar um exército inteiro! E se você tentasse pegar essa espada emprestada?

Lai-Tan seguiu o conselho do amigo e viajou até a terra de Wei. Ao chegar à casa do nobre, implorou-lhe ajuda e, em troca, ofereceu-se para trabalhar como servo.

Ao ouvir a trite história de Lai-Tan, o nobre impressionou-se com sua coragem diante de um inimigo mortal. Então ele lhe disse:

_ Caro Lai-Tan, tenho três espadas mágicas, mas nenhuma delas é capaz de matar, Posso emprestar-lhe uma arma para que você consiga enfrenta o inimigo de seu pai. Mais antes, preciso descrever as características de cada arma.

A primeira espada se chama Luz invisível. Ela não tem forma nem peso, de modo que você não pode senti-la e ela não deixa marca quando corta.

A segunda arma se chama Espada de sombra. Se você a colocar contra a luz do amanhecer ou do anoitecer poderá vislumbrá-la. Ao atingir o inimigo, ela produzirá um som suave, mas a vítima não sentirá dor aluma.

A terceira se chama Espada da noite. Durante o dia, você verá sua sombra, mas não seu brilho. À noite, você verá seu brilho, mas não sua forma. Quando ela atingir o adversário, você perceberá um ruído agudo. O ferimento produzido pelo corte fechará imediatamente e não haverá sangue. A vítima sentirá apenas uma pontada no lugar em que foi tocada pela espada.

Essas três espadas foram transmitidas de pai para filhos ao longo de treze gerações. Elas jamais foram usadas e permanecem trancadas dentro de uma caixa especial.

Lai-Tan pediu emprestada a Espada da Sombra.

O nobre lhe explicou que ele precisaria fazer um ritual mágico para quebrar o selo da caixa que guardava a espada.

Lai-Tan jejuou durante sete dias, fez todos os rituais de purificação necessários e abriu a caixa à meia-noite. Em seguida, com a arma em punho, foi ao encontro de seu inimigo.

No entanto, ao encontrar o assassino de seu pai, percebeu que o homem estava bêbado e abatido. Mesmo assim, Lai-Tan ergueu a espada e o atacou três vezes. O homem caiu inerte e o jovem saiu correndo da sala. No corredor, ele se deparou com o filho de seu adversário. Lai-Tan rapidamente ergueu a espada e o atingiu. Mas, no lugar de demonstrar dor, o garoto sorriu e disse:

_ Você é um homem engraçado. Por que fez esse gesto tão estranho com a mão? Você é um malabarista, por acaso?

Sabendo que a espada não produzia ferimentos reais, Lai-Tan simplesmente partir, sem responder às perguntas que o menino lhe fizera.

Na manhã seguinte, ao despertar, o assassino disse à mulher:

_ Por que você não cuidou bem de mim ontem? Despertei com dor na garanta e nas costa, parece que algo me atingiu à noite.

Ao ouvir isso, o filho dele lhe disse:

_ Pai, ontem Lai-Tan apareceu por aqui. Ele fez um gesto estranho com a mão e foi embora. Agora meu corpo inteiro está um pouco dolorido. O senhor acha que ele jogou uma praga ou nos jogou feitiço?

Lai-Tan não matou seu inimigo, mesmo assim, lhe deu uma lição. A Espada da sombra era uma arma poderosa. Ela não cortou nem feriu, mas dissipou todo o ódio que o jovem carregava dentro de si. Se Lai-Tan tivesse usada uma arma normal para realmente matar seu adversário, bem como seu filho, a família deles tentaria vingar-se e a violência teria se propagado durante muitas gerações, produzindo enormes infelicidades.

LIEH TSER

O TIGRE ACOMPANHA A RAPOSA

Certa vez, um tigre capturou uma pequena raposa. Mas ela lhe disse:

_ Você não se atreverá a me devorar! Os deuses do céu me criaram para que eu fosse a líder de todos os animais! Se você me ferir, estará violando uma lei divina e os deuses o amaldiçoarão eternamente! E caso você duvide de minhas palavras, caminhe comigo pela floresta e veja se algum animal se atreverá a me atacar!

O Tigre concordou e caminhou pela floresta acompanhando a raposa. Todos os animais que os encontraram afastaram-se rapidamente, temendo as terríveis garras do tigre, agora a serviço de sua nova amiga, a pequena raposa.

Convencido de que realmente a raposa era a líder de todo a floresta, o tire afastou-se respeitoso em busca de novas vítimas.

Extraído da obra clássica Cahan Kuo T1se (Intrigas dos estados guerreiros), de autor desconhecido.

OS ENSINAMENTOS DOS MESTRES

Quem conhece os outros é inteligente.

Quem conhece a si mesmo é iluminado.

Quem vence os outros é forte.

Quem vence a si mesmo é invencível.


Quem sabe estar satisfeito é rico.

Quem segue seu caminho é inabalável.

Quem permanece em seu lugar perdura.

Quem morre sem deixar de ser conquistou a imortalidade.


Quem fica na ponta dos pés não tem equilíbrio.

Quem mantém as pernas esticadas não pode andar.

Quem se põe em evidência permanece no escuro.

Quem está satisfeito consigo mesmo não é amado.

Quem se vangloria não tem mérito.

Quem se orgulha de si pára e crescer.


Quando algo acontece,

aquele que não sabe como funcionam as coisas

não compreende sua origem.

Mas aquele que conhece o mecanismo dos acontecimentos,

saberá por que aquilo aconteceu.

Quem conhece as causas das coisas,

nunca fica triste.


Lao Tse